BUENOS AIRES, 14 de agosto — Contrariando pesquisas locais, Javier Milei, libertário que é chamado de “ultradireitista” pela mídia internacional, liderou as eleições primárias obrigatórias da Argentina (PASO) que aconteceram neste domingo no país e entrou de vez nas eleições presidenciais que estão marcadas para 22 de outubro; Milei disputará a presidência com o candidato governista Sergio Massa, atual ministro da Economia e ex-chefe de gabinete da ex-presidente (e atual vice) Cristina Kirchner, e com a ex-ministra da Segurança do governo Macri Patricia Bullrich.
Com 93,26% dos votos contabilizados até o momento, Milei aparece com 31,77%, seguido por Patricia Bullrich, com 17,85%, e Horacio Larreta, com 11,8% (mesmo grupo da candidata Bullrich).
Dentre os candidatos governistas de esquerda estão Sergio Massa (já escolhido como candidato antes mesmo da votação) com 22,38% e Juan Grabois com 6,08%.
Milei, representando agora a principal vertente da oposição (teve mais votos que todos os candidatos da aliança opositora somados), é deputado e economista, e se apresenta como libertário antissistema, defendendo a dolarização na economia argentina, a polêmica extinção do Banco Central local, o fim da educação gratuita e obrigatória (seria substituído por um sistema de vouchers), a privatização da Saúde, o fim da educação sexual obrigatória e uma desregulamentação do armamento civil.
Sergio Massa, o atual ministro da Economia da Argentina, já escolhido antes mesmo das primárias para representar o grupo governista, é visto por linhas divergentes como uma continuação do governo atual (um representante do Peronismo e talvez subordinado indireto de Kirchner), ou como um novo alinhamento que indicaria uma perda de força política da própria Cristina Kirchner e um encaminhamento do Peronismo ao ‘centrão’ local.
“Quero agradecer a todos aqueles que apostaram num projeto liberal com projeção nacional para se tornar um Governo. Somos uma alternativa que não só acabará com o Kirchnerismo, mas também com toda a casta política parasitária que arruinou este país […] estamos em condições de vencer a casta no primeiro turno […] e pensar que há duas semanas disseram que nem ficaríamos em terceiro. Hoje somos a força mais votada, porque somos a verdadeira oposição. Somos os únicos em condições de acabar com o Kirchnerismo e levar a Argentina adiante […] Eles temem o modelo de liberdade porque termina com o roubo da casta política. Convido todos os bons argentinos a aderirem a esta verdadeira vocação de mudança, e não venham me dizer que não podemos. Sim, nós podemos, o problema é que a solução está nas mãos do problema, que são os políticos, e eles não querem aplicar as ideias de liberdade. Se eles não quiserem, vamos expulsá-los de vez. Viva o La Liberdad Avanza (partido), caral—!” -discurso do presidenciável Javier Milei
Se eleito, Milei disse que sorteará seu salário mensalmente em uma transmissão online; “isso é dinheiro sujo […] do meu ponto de vista filosófico, o Estado é uma organização criminosa que se financia com impostos retirados das pessoas à força. Estamos devolvendo o dinheiro que a casta política roubou”.
De acordo com as leis eleitorais argentinas, para que um candidato vença no primeiro turno, ele precisa passar dos 45% dos votos ou chegar aos 40% com uma diferença de 10 pontos para o segundo lugar.
Caso haja um segundo turno (caminho mais provável), a disputa será travada no dia 19 de novembro.
A Argentina, que vive uma das mais duras crises econômicas de sua história, com uma inflação que deve superar os 140% neste ano, além de estar passando por uma seca histórica, está contando com uma linha de crédito “abrangente” brasileira e com acordos com a China para tentar estabilizar sua situação.
A linha de crédito brasileira, nos planos atuais, financiará até a compra de 161 blindados brasileiros (Guarani 6×6) para o país vizinho. O assunto foi tratado na última visita do presidente argentino ao Brasil, a quinta desde o início do novo governo.
No último dia 09/08, a cotação do “Dólar Blue” (cotação paralela que é encontrada nos mercados locais) chegou a bater o valor recorde de 600 pesos (desvalorização da moeda argentina de ~17,5% nos últimos 30 dias). Hoje o “Dólar Blue” se está sendo vendido a 605 pesos.
(Em atualização)