
LIMA, 15 de abril — De acordo com o ministério das Relações Exteriores do Peru, a ex-primeira-dama peruana Nadine Heredia, que foi condenada hoje junto com o marido, o ex-presidente Ollanta Humala (2011–2016), a 15 anos de prisão por mais um dos frequentes casos de corrupção no país envolvendo a construtora brasileira Odebrecht (hoje NOVONOR), pediu asilo na embaixada do Brasil em Lima.
Nadine Heredia e o ex-presidente Ollanta Humala (62) haviam sido presos em 2017 no âmbito de um extenso processo judicial relacionado ao recebimento de milhões de dólares em fundos ilícitos da construtora Odebrecht para a campanha vitoriosa do político de 2011.
Posteriormente libertados por decisão judicial que considerou excessiva a prisão preventiva do casal, o ex-presidente Humala chegou a disputar novamente as eleições presidenciais do país em 2021, mas teve um desempenho pífio: obteve apenas 1,6% dos votos e terminou em 13º lugar.
Com o encerramento do processo e a sentença proferida, Humala tornou-se o terceiro presidente peruano condenado – e o quarto envolvido em escândalos de corrupção ligados à Odebrecht.
Humala foi preso de forma imediata enquanto acompanhava a leitura da sentença do Terceiro Tribunal Colegiado Nacional do Peru.
Nadine alegou problemas de saúde para justificar sua ausência na leitura da sentença e aproveitou esse tempo para fugir para a embaixada brasileira.
Os dois também são acusados de receber, para a campanha eleitoral de 2006, US$ 200 mil em repasses ilegais e não declarados do então ditador venezuelano Hugo Chávez.
“COMUNICADO OFICIAL: O Ministério das Relações Exteriores informa à opinião pública que a Embaixada da República Federativa do Brasil no Peru comunicou que a senhora Nadine Heredia Alarcón entrou, na manhã de hoje, na sede da referida embaixada. A senhora Heredia solicitou asilo ao referido país, em conformidade com o estabelecido na Convenção sobre Asilo Diplomático de 1954, da qual o Peru e o Brasil são signatários. Ambos os governos mantêm comunicação permanente sobre essa situação.” -nota oficial da Chancelaria peruana
Além de Humala, também foram implicados em esquemas de corrupção envolvendo a construtora Odebrecht os ex-presidentes peruanos Alan García (1985–1990 e 2006–2011), Pedro Pablo Kuczynski (2016–2018) e Alejandro Toledo (2001–2006).
Alan García tirou a própria vida com um tiro na cabeça em 17 de abril de 2019 ao ver a polícia na porta de sua casa, em Lima, prestes a ser preso por crimes relacionados ao financiamento irregular de campanha, lavagem de dinheiro e tráfico de influência.
Pedro Pablo Kuczynski, conhecido como PPK, renunciou à presidência do Peru em março de 2018, após apenas dois anos no cargo, em meio a escândalos envolvendo o recebimento de US$ 5 milhões da Odebrecht por meio de empresas de consultoria vinculadas a ele. Preso preventivamente, PPK foi transferido para prisão domiciliar por causa da idade avançada e de problemas de saúde e, em abril de 2022, foi liberado “com restrições”, seguindo réu em processos na Justiça (foi denunciado pelo Ministério Público para cumprir 35 anos de prisão).
Já Alejandro Toledo, que recebeu entre US$ 25 e 35 milhões da Odebrecht, foi preso em 2019, liberado sob fiança em 2020 e, posteriormente, detido novamente na Califórnia, em 2023. Extraditado para o Peru, Alejandro encontra-se atualmente no presídio de Barbadillo, em Lima — destinado a ex-presidentes — após ser condenado, em 2024, a 20 anos e 6 meses de prisão.
Assim como no Brasil, a Odebrecht também elaborou planilhas detalhadas com os nomes de inúmeros políticos peruanos, entre eles a líder da oposição Keiko Fujimori, que recebeu ao menos US$ 1,2 milhão da construtora como financiamento ilegal de campanha, e a famosa ex-prefeita de Lima, Susana Villarán, amplamente cogitada como possível candidata à presidência do país.
Villarán também responde por esquemas envolvendo outra grande construtora brasileira, a OAS, de Léo Pinheiro, que chegou a participar de eventos oficiais no país.
Vale destacar que, segundo dados oficiais do governo brasileiro, o BNDES destinou mais de US$ 11 bilhões a projetos de engenharia no exterior entre 1998 e 2017. Aproximadamente 75% desse valor foi direcionado a projetos que beneficiaram a construtora Odebrecht.
A empresa, envolvida em escândalos de corrupção em dezenas de países e responsável pela prisão de diversos presidentes e políticos ao redor do mundo, foi considerada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos como a responsável pelo “maior caso de corrupção global da história”.
Entre os países que implicaram a empresa em escândalos de corrupção estão o Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana, Panamá, Equador, Peru, Guatemala, Guiné Equatorial, Gana, Moçambique, Colômbia, Argentina, Portugal, México e Angola.
Somente no Brasil, 77 executivos da Odebrecht confessaram crimes em acordos de colaboração que foram homologados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
(Matéria em atualização)