Em coletiva, Lula admite que pediu a Xi Jinping intervenção no TikTok no Brasil e apoio do regime chinês na regulamentação das redes sociais

Presidente Lula e Xi Jinpijg durante cerimônia de boas-vindas no “Grande Palácio do Povo” | Imagem por Ricardo Stuckert/PR

PEQUIM, 14 de maio — Ao ser questionado pela mídia brasileira durante uma coletiva de imprensa na China sobre um suposto desconforto causado por Janja Silva em um jantar que aconteceu na noite de ontem com Xi Jinping e sua esposa Peng Liyuan, o presidente Lula saiu em defesa da primeira-dama e confirmou que o regime chinês — conhecido pelo controle absoluto do discurso, por seu caráter autoritário e pela ausência de liberdade de expressão — enviará um emissário ao Brasil para auxiliar na regulamentação das redes sociais.

Coletiva de imprensa realizada nesta manhã na China/“Lula conversa com a imprensa”

O “desconforto” que repercutiu no noticiário brasileiro na manhã de hoje foi provocado pelo fato de Janja ter questionado diretamente Xi Jinping, em tom de cobrança e durante um evento no qual não lhe cabia fazer declarações, pedindo que o regime chinês controlasse melhor o TikTok no Brasil, já que, em sua opinião, o algoritmo da plataforma favoreceria discursos da direita política no país.

Como resposta, também de forma direta, Xi teria respondido a Janja — e não a Lula — que o Brasil tem total legitimidade para regular ou até banir a rede social, caso assim deseje.

Em sua resposta sobre a polêmica, Lula demonstrou irritação com o vazamento do conteúdo à imprensa, afirmando que um dos presentes na reunião teve a “pachorra” de divulgar uma conversa que, segundo ele, foi “muito confidencial e pessoal”.

Ainda em defesa do pedido feito por Janja por um controle mais rígido do TikTok, Lula limitou-se a mencionar crimes cometidos na plataforma contra crianças, adolescentes e mulheres como justificativa — embora, segundo o vazamento, essa tenha sido apenas uma parte do questionamento feito pela primeira-dama.

A defesa foi seguida da confirmação de que Xi enviará uma pessoa de sua confiança ao Brasil para “conversar conosco sobre o que a gente pode fazer nesse mundo digital”.

“Eu acho estranho como essa pergunta chegou à imprensa porque estavam só os meus ministros lá, o Alcolumbre [Davi, presidente do Senado] e o [deputado] Elmar Nascimento. Então alguém teve a pachorra de ligar para alguém e contar uma conversa que teve num jantar que era uma coisa muito, mas muito confidencial e uma coisa muito pessoal. E, depois, eu que fiz a pergunta, não foi a Janja. Eu que fiz a pergunta, eu até fico perguntando, que eu vi na matéria, que um ministro estava incomodado, ficou incomodado. Se o ministro estivesse incomodado, deveria ter me procurado e pedido para sair. Eu autorizaria ele [a] sair da sala. Eu fiz uma pergunta para ele, eu perguntei ao companheiro Xi Jinping se era possível ele enviar para o Brasil uma pessoa da confiança dele para a gente discutir a questão digital, e sobretudo TikTok. E, aí, a Janja pediu a palavra, para explicar o que tá acontecendo no Brasil, sobretudo contra as mulheres e contra as crianças. Foi só isso. E ele disse uma coisa: que o Brasil tem um direito de fazer a regulamentação. Ainda bem que estava o Elmar, em nome da Câmara, e o Davi, que sabe que nós temos que regulamentar, sabe que nós temos que regulamentar. Não é possível a gente continuar com as redes digitais cometendo os absurdos que cometem, e a gente não tem a capacidade de fazer uma regulamentação. Então, para mim foi uma coisa simplesmente normal e ele [Xi] vai mandar uma pessoa. Isso que importa. Ele vai mandar uma pessoa especialmente para conversar conosco sobre o que a gente pode fazer nesse mundo digital. É isso que aconteceu, nada mais do que isso. Eu não sei por que alguém achou que isso era novidade e foi falar para a imprensa. Não sei, sinceramente, eu não sei, mas, de qualquer forma, já saiu, então é isso. A pergunta foi minha, eu não me senti nem um pouco incomodado. O fato da minha mulher pedir a palavra é porque a minha mulher não é cidadã de segunda classe. Ela entende mais de rede digital do que eu, e ela resolveu falar” -Lula

Ainda não há confirmação sobre qual teria sido o “ministro” citado por Lula como responsável pelo vazamento do conteúdo da reunião.

Interlocutores do governo que integravam a comitiva de Lula acreditam que o vazamento do conteúdo da reunião — que mencionou um “desrespeito” de Janja com Xi Jinping e sua esposa, além de um claro desconforto dos presentes, incluindo o próprio presidente, que não teria gostado da intromissão da primeira-dama — partiu do ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Vale lembrar que a regulamentação das redes sociais no Brasil está travada no Congresso por falta de votos do chamado Projeto de Lei das Fake News (PL2630/20), relatado pelo deputado Orlando Silva, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), e estagnada no Supremo por ausência de apoio de uma maioria de ministros dispostos a atropelar o papel legislativo da Câmara para aprovar essa questão polêmica.

Após Janja ter mencionado, segundo o vazamento interno, ‘discursos da direita’ ao pressionar Xi Jinping, e Lula ter afirmado que receberá um enviado de Xi ao Brasil para ajudar “no que a gente pode fazer nesse mundo digital”, a oposição avalia que as chances de a regulamentação avançar pelo Congresso caíram a zero antes das eleições de 2026.

Integrantes do governo veem uma última oportunidade para destravar a regulamentação das redes sociais: embutir trechos do projeto original como um “jabuti” dentro do texto sobre Inteligência Artificial, cuja análise pelo Congresso está prevista para começar na próxima semana.

Apesar da expectativa do governo, ao menos por enquanto, é improvável que o tema seja incorporado ao debate, seja nas comissões ou no plenário.

Relevante: O marqueteiro de Lula e atual chefe da Secretaria de Comunicação Social (SECOM), Sidônio Palmeira, já defendeu publicamente, em janeiro deste ano, o direito do Brasil de banir as redes sociais mais utilizadas do mundo caso não se alinhem estritamente ao que o governo e o Supremo Tribunal Federal (STF) consideram liberdade de expressão, citando os Estados Unidos — questionando por que teriam “botado para fora” o TikTok, algo que nunca ocorreu e que não conta com o apoio do presidente eleito Donald Trump — e a China, que bloqueou todas as redes sociais ocidentais para controlar o conteúdo acessado pela população.


(Matéria em atualização)

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