CARACAS, 2 de agosto — Divergindo do chanceler informal brasileiro Celso Amorim, que hoje disse à RedeTV que a oposição venezuelana “não consegue provar” que venceu as “eleições” presidenciais que foram realizadas no país no último domingo (28), o embaixador da Bolívia na Venezuela, Sebastián Michel, disse em entrevista à portuguesa RTP, que as atas de votos apresentadas publicamente pela oposição (82% das atas totais) são verdadeiras.
“Só sei que todos os opositores validaram que é um sistema muito seguro. Tanto é que o que hoje apresentou a líder, a dirigente María Corina Machado, são precisamente atas que provêm desse sistema e que foram levadas por seus delegados. Uma vez que a mesa é fechada, cada delegado leva sua ata.” –Sebastián Michel
O embaixador boliviano, que teve sua entrevista encerrada por “problemas de conexão” (e não conseguiu voltar a se conectar) logo após dizer que as atas de votação eram “precisamente as que provêm” do sistema oficial de votação, representa um país que reconheceu a “vitória” de Nicolás Maduro nos primeiros minutos do anúncio feito pelo ditador venezuelano, mesmo sem qualquer evidência (aliados políticos do regime).
Citando “uma grande maneira de recordar” o aniversário do ex-ditador Hugo Chávez, chamado por ele de “comandante”, o presidente boliviano Luis Arce chegou a chamar o processo eleitoral venezuelano de “festa democrática”.
A posição pública de Sebastián Michel, que dificilmente será repetida, contraria frontalmente a do chanceler brasileiro Celso Amorim. Hoje, ao falar sobre o anúncio do CNE (equivalente ao TSE brasileiro) de que Maduro teria vencido o “pleito”, Amorim afirmou que “a oposição consegue levantar dúvidas”, mas “não provar o contrário”.
As dúvidas citadas por Amorim são as atas de votação que foram publicadas pela oposição em um sistema público um dia após a “eleição”.
O sistema possui todas as atas eleitorais (dados oficiais) que a oposição conseguiu até o momento (82%) e que por si já garantiriam a vitória sobre o ditador Nicolás Maduro nas “eleições” venezuelanas com cerca de 66% dos votos.
Link do sistema: https://resultadospresidencialesvenezuela2024.com
A posição do Brasil, que hoje é sempre apresentada por Celso Amorim, há muitos anos se baseia em dados colhidos pelo conhecido Centro Carter, que obteve autorização do regime venezuelano para atuar como observadores internacionais no país.
Nestas “eleições”, a Organização disse oficialmente que “a eleição presidencial da Venezuela de 2024 não se adequou a parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática”.
Na região, Estados Unidos e Argentina já atestaram a veracidade os dados públicos divulgados pela oposição e declararam oficialmente que reconhecem a vitória de Edmundo González, o candidato apoiado pela opositora Corina Machado.
Em uma reunião com Maduro, um dia após as “eleições” locais, Amorim , representando o governo brasileiro, ouviu a promessa de que o regime também divulgaria as atas de votação (o prazo prometido venceu anteontem), provando que de fato venceu o pleito.
Nesta noite, Maduro afirmou em uma coletiva na TV estatal que ainda não divulgou as atas porque seu sistema foi hackeado pelo bilionário Elon Musk, mas que já estava buscando soluções para corrigir o problema com a ajuda da Rússia e da China.
(Matéria em atualização)