LONDRES, 15 de setembro — O governo britânico adicionou hoje a milícia russa Grupo Wagner (grupo paramilitar subordinado exclusivamente à Vladimir Putin) na lista oficial de organizações terroristas; membros e apoiadores da milícia serão tratados como membros e apoiadores de grupos terroristas como o Estado Islâmico, o Hamas e o Boko Haram (78 grupos integram a lista).
De acordo com a lei de terrorismo, os que forem considerados culpados de pertencer ou auxiliar o grupo poderão enfrentar multas pesadas e penas de até 14 anos de prisão.
“As contínuas atividades desestabilizadoras do Wagner apenas continuam a servir os objetivos políticos do Kremlin […] eles são terroristas, pura e simplesmente, e esta ordem de proibição deixa isso claro na lei do Reino Unido” -Secretária de Estado para os Assuntos Internos, Suella Braverman
O grupo sempre foi chefiado pelo bilionário e amigo pessoal de Putin, Yevgeny Prigozhin, que já foi registrado nos últimos meses visitando presídios em busca de novos soldados para o grupo com a promessa de perdão judicial por crimes como estupro e assassinato em troca de meses na guerra contra a Ucrânia, e que foi morto no último dia 23/08 após uma explosão ser registrada em sua aeronave particular (aeronave derrubada na região de Tver, Rússia).
A aeronave também transportava o líder de recrutamento e fundador da companhia militar que originou o grupo, o ex-oficial russo Dmitri Utkin, que já frequentou várias reuniões públicas com o próprio presidente russo Vladimir Putin e exibia publicamente tatuagens da tropa nazista “SS” nos ombros, como se fossem adereços militares.
O nome “Wagner” vem do compositor Richard Wagner e foi escolhido por Utkin pela sua paixão pelo Terceiro Reich, sendo Wagner o compositor favorito de Adolf Hitler.
A milícia, que hoje está sendo desmantelada pelo Estado russo e está sendo substituída em todo o mundo por Forças regulares russas (aproveitando os mesmos soldados que estão sendo obrigados a jurar lealdade), tinha uma forte presença na internet e era comum a divulgação de vídeos, pelos canais oficiais no Telegram ou pela mídia associada “The Grayzone” do próprio grupo, de assassinatos que remetem (e até superam na violência) às execuções públicas mais duras do Estado Islâmico.
Registro visual de cemitérios da milícia sendo asfaltados na Rússia:
Atualmente, a milícia está presente (sendo substituída) em cerca de 30 países, incluindo Venezuela (proteção pessoal do ditador Nicolás Maduro desde o último levante), Síria, Mali, Sudão, Líbia, Moçambique e República Centro-Africana*
Ainda nesta guerra na Ucrânia, o grupo, que há muito tempo já era considerado “terrorista” por alguns países, divulgou ao menos dois vídeos de execução de soldados que fugiram do conflito; nos vídeos é possível ver soldados que narram como fugiram da linha de frente, como foram recapturados no meio de cidades, e a execução dos soldados com golpes de marreta na cabeça (o grupo usa uma marreta e um violino como símbolos oficiais).
O vídeo pesado mais famoso do grupo (que é facilmente encontrado em redes sociais) se passou na Síria, com a execução de um pedreiro de 31 anos chamado Mohammed Taha Ismail al-Abdullah, que tinha 4 filhos, e que também desertou da guerra local.
No vídeo, Mohammed Taha Ismail al-Abdullah é atacado com golpes de marreta por militares russos do Grupo Wagner, sob o som da música “I am Russian special forces” (“Sou das Forças Especiais da Rússia”); um dos assassinos utiliza um uniforme da famosa unidade paraquedista russa VDV (que foi duramente castigada no início desta última guerra contra a Ucrânia) e diz que isso é “pelo grupo”. Após ter seus membros quebrados com golpes de marreta, Mohammed teve sua cabeça e os quatro membros cortados, enquanto estava amarrado em duas estacas.
Na época em que o vídeo ganhou repercussão (vídeos sempre postados pelo próprio grupo), o bilionário e ex-líder do grupo Yevgeny Prigozhin negava qualquer ligação com a milícia e ainda processava jornalistas (até mesmo fora da Rússia, perdendo todos os processos judiciais na Europa e vencendo todos na Rússia) que diziam que ele chefiava as Forças que trabalham apenas sob o comando do governo russo.
Por decreto assinado por Putin em março do ano passado, criticar publicamente o Grupo Wagner na Rússia pode render uma pena de até 15 anos de prisão e multas que vão de “300.000 a 1 milhão de rublos” (R$ 15 mil ~ R$ 50,3 mil), ou no valor do salário ou qualquer outro rendimento do condenado por um período de três a cinco anos.
A Rússia ainda não se posicionou sobre a decisão do governo britânico (provavelmente não comentará sobre o assunto).
(Em atualização)