PEQUIM, 13 de abril — A deputada federal e presidente do partido governista PT Gleisi Hoffmann, que liderou uma comitiva com 28 integrantes da sigla política em uma visita à China, virou notícia neste fim de semana no noticiário nacional ao elogiar o regime chinês, que conta com apenas um partido e proíbe oposição, em uma entrevista concedida na embaixada do Brasil em Pequim, chamando o sistema local de “democracia efetiva”.
A visita durou três dias e foi oficialmente descrita como um intercâmbio com seminários do Partido Comunista Chinês.
“O Ocidente tem que parar de dar lição de democracia. O que eu vejo aqui, inclusive na organização do partido e da sociedade, é uma democracia e uma participação nos extratos mais baixos da sociedade aos mais altos no desenvolvimento do país. Quisera tivéssemos isso nos países em que o capitalismo é o coordenador da economia ” -Gleisi Hoffmann
Quando perguntada sobre a majoritária desaprovação da sociedade brasileira com relação à ligação do PT com regimes não democráticos, Gleisi defendeu sua posição, citando uma música, dizendo que as pessoas reprovam estes regimes porque não os conhecem bem, sugerindo que é preciso conhecê-los antes de julgá-los.
“Há muita desinformação e preconceito do Ocidente. ‘Narciso acha feio o que não é espelho’, como diz a música [musica “Sampa”, de Caetano Veloso]. Como não conhecem, não consideram todo o processo cultural como está sendo construído. Muitas vezes os países adotam sistemas que podem parecer ruins aos olhos de outros para se defender, para poder cuidar de seu povo, já que não encontram solidariedade.” -Gleisi Hoffmann
A parlamentar, que hoje ocupa cargo de deputada e já foi senadora, também já virou polêmica ao visitar a “posse” de Nicolás Maduro, sendo citada nominalmente pelo ditador em seu discurso de agradecimentos – oficialmente, o Brasil não reconheceu o último pleito venezuelano.
Questionada sobre os campos de concentração chineses em Xinjiang, Gleisi disse que, apesar de não acompanhar o caso, “não é condescendente com a violação de direitos humanos em qualquer país”, e que os outros países não podem apontar o dedo para a China.
“Os EUA têm que resolver Guantánamo antes de apontar o dedo para os outros. Obviamente que a gente faz críticas ao que está acontecendo na Faixa de Gaza, que é uma violação dos direitos humanos. Somos a favor dos direitos humanos. O problema é que quem se arvora a ser defensor de direitos humanos e intervém em outros países para defender direitos humanos viola os direitos humanos. Nem a Europa, por sua história de colonialismo tem esse direito. Todos deveriam fazer uma grande autocrítica.” -Gleisi Hoffmann
Em sua última visita oficial à China, Lula, líder do partido de Gleisi, se recusou a comentar o assunto dos campos de concentração de muçulmanos que o país possui na região de Xinjiang. Na mesma viagem, Lula não poupou críticas contra os Estados Unidos por conta do país enviar armas à Ucrânia para que o país se defenda da nova invasão russa iniciada em fevereiro de 2022.
Vale ressaltar que todos os membros do partido utilizaram normalmente suas redes sociais como 𝕏 (antigo Twitter) e Instagram, que na China são bloqueadas há muitos anos. A utilização de mecanismos para a utilização de redes sociais Ocidentais na China é punível pela lei local.
(Matéria em atualização)