XINJIANG, 24 de maio — Um novo grande de vazamento de imagens hackeadas dos sistemas da polícia local de Xinjiang, China, foi divulgado hoje na internet, e elas mostram como funcionam os -já famosos- campos de concentração dos Uyghur (grupo étnico muçulmano local).
O novo vazamento foi divulgado agora, durante a visita (que não incluirá os campos de concentração) da comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet.
A viagem está sendo duramente criticada porque seguirá apenas o roteiro estipulado pelo regime chinês.
As imagens, todas originais e com metadados nos arquivos, mostram os internos/presos, a estrutura das instalações e a atividade policial local; os arquivos foram enviados para/publicados pela britânica BBC, que fez o trabalho de verificação dos dados com o auxílio de 11 empresas de comunicação.
Todos os arquivos são de 2017~2018 (uma regra local proibiu registros internos depois deste período).
O vazamento também conta com um conjunto de 452 planilhas completas com os nomes, endereços e números de identificação de mais de 250.000 uigures – mostrando qual deles foi detido, em que tipo de instalação, e a “razão” da prisão.
Existem inúmeros exemplos de pessoas sendo punidas retrospectivamente por “crimes” que ocorreram anos ou mesmo décadas atrás, como um homem que foi preso por 10 anos em 2017 porque “estudou as escrituras islâmicas com a sua avó por alguns dias em 2010”.
Muitas centenas de prisões foram justificadas com o uso inapropriado de telefones celulares – principalmente por ouvir/consumir “conteúdos ilegais” ou possuir aplicativos criptografados instalados.
Alguns foram punidos com até uma década de prisão por não usarem seus dispositivos o suficiente, com mais de uma centena de casos de “telefone sem crédito” sendo listados como um sinal de que o usuário está tentando fugir da vigilância digital.
O controle digital é uma parte importante do regime chinês, e realisticamente ninguém consegue viver na China sem utilizar aparelhos celulares e inúmeros códigos QR de identificação pessoal (crédito social, documentos, e até permissões para a compra de determinados objetos, passagens, etc).
As planilhas dão poucos detalhes sobre o destino das crianças cujos pais foram detidos.
É provável que elas estejam sob cuidados permanentes e de longo prazo de um sistema de internatos estatais construídos em Xinjiang, ao lado dos campos de concentração.
Segundo a BBC, os arquivos de imagens foram registrados pelos próprios policiais de Xinjiang (nítido que o conteúdo era utilizado como documentação/registro interno).
Os arquivos podem ser acessados aqui (site está obviamente instável pelo grande número de acessos) >
Matéria publicada pela britânica BBC >
O regime chinês diz que os “campos de reeducação” construídos em Xinjiang desde 2017 são apenas “escolas”*
“Os documentos fornecem algumas das evidências mais fortes até o momento de uma política que visa quase qualquer expressão de identidade, cultura ou fé islâmica uigures – e de uma cadeia de comando que vai até o líder chinês, Xi Jinping” -BBC
Entre as denúncias conhecidas dos campos de concentração de Xinjiang, os uigures muçulmanos são obrigados a se comunicar utilizando apenas o idioma local, a renunciar religiões e jurar obediência apenas ao Partido Comunista da China, consumir carne de porco (proibida na religião islâmica), etc.
Lembrete: Leis e regras internas que visam coibir o crescimento de religiões na China não são exclusivamente contrárias ao islamismo.
As conhecidas “cinco religiões” (budismo chinês, taoísmo, islamismo, catolicismo e protestantismo) são supervisionadas por organizações oficiais de Estado, como o Movimento Patriótico das Três Autoridades Protestante/Associação Budista da China, que por sua vez são supervisionadas pelo Departamento da Frente Unida de Trabalho do Partido Comunista.
Qualquer prática fora dos limites estipulados por estes grupos é estritamente controlada, e igrejas clandestinas, seitas e até mesmo grupos de estudos religiosos privados são regularmente reprimidos (as regras costumam ser mais leves para estrangeiros*).
Religiões que não fazem parte das “Cinco Religiões” citadas acima, como o judaísmo e o mormonismo, podem ser praticadas no país desde que todos os fiéis sejam estrangeiros (que representam uma minoria absoluta da população).
(em atualização / dificilmente isso será utilizado de forma prática e no máximo fará parte de notas de repúdio de lideranças mundiais que são absolutamente dependentes da China)
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