YEREVAN, 14 de setembro — O primeiro-ministro armênio Nikol Pashinyan disse há pouco no Parlamento da Armênia que estava pronto para convocar o artigo 4° da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), grupo similar à OTAN que é composto por Rússia, Bielorrússia, Tajiquistão, Cazaquistão, Quirguistão, e Armênia, que estipula que um ataque a um Estado membro é considerado um ataque a todos os membros; segundo o primeiro-ministro, o pedido seria feito para que a Armênia possa “retomar a integridade territorial” após um ataque azerbaijano em um território reconhecidamente -pelos dois lados- armênio.
Os conflitos já deixaram mais de 155 mortos (~105 armênios e ~50 azerbaijanos).
Em 2020, os dois países, Azerbaijão e Armênia, já entraram em uma guerra aberta no território de Nagorno-Karabakh, que foi vencida pelo Azerbaijão e teve a participação direta da Turquia (envio de militares e equipamentos).
A Rússia, na época, no máximo fez os dois países (ex-Repúblicas soviéticas) assinarem um acordo para o fim da guerra (consequentemente defendendo a vitória do Azerbaijão).
O clima entre os dois países ficou péssimo na época; A Armênia encarou o afastamento russo como traição e até chegou a publicamente pedir reembolso pela defesa aérea russa (S-300) e pelos mísseis balísticos russos (Iskanders comprados em 2015) que o país havia adquirido, sob o argumento de que eles “não funcionavam” como prometido.
“Pedimos apoio da OTSC, incluindo apoio militar para restaurar a integridade territorial da Armênia e garantir a retirada das Forças Armadas do Azerbaijão do território da Armênia […] Penso que em termos de avaliação da situação foram tomadas as decisões mínimas exigidas para esta fase […] Há uma fronteira entre a Armênia e o Azerbaijão, essa fronteira é reconhecida e o reconhecimento dessa fronteira é ratificado pelos dois países. Se o Azerbaijão está dizendo que não existe tal coisa, então, no contexto geral, várias posições expressas por eles são totalmente sem sentido e sem fundamento […] O projeto de lei sobre a introdução de uma lei marcial está na minha mesa, essa questão está na ordem do dia, mas até agora não vemos a necessidade disso. A situação é constantemente avaliada […] Todo cidadão da República da Armênia, independentemente de sexo e idade, deve, se necessário, defender cada milímetro quadrado da Pátria com armas nas mãos” –Nikol Pashinyan, primeiro-ministro armênio
O Azerbaijão, como justificativa para os ataques na fronteira, alega que estava sendo provocado militarmente desde o fim de agosto (ataques pequenos e diários em posições azerbaijanas em Kalbajar e Lachin).
Apesar do acirramento das tensões, continua não havendo clima para uma escalada na região (talvez conflitos locais e pontuais entre os dois países, se aproveitando do momento em que o mundo está olhando para a Ucrânia*).
Rússia e Azerbaijão, apesar do presidente azerbaijano ter comentado sobre a guerra na Ucrânia de que o lado ucraniano estava “100% no seu direito de defender integralmente seu território” e que a Ucrânia estava correta neste conflito, não são inimigos e possuem parcerias em diversas áreas (justamente o motivo pelo qual a Rússia não participou da guerra de 2020).
Apesar da pressão russa, a Armênia também se manteve ausente do assunto Ucrânia.
Seria uma surpresa (situação esperada pela Turquia*) se o Azerbaijão atacasse as Forças russas que estão na região em “missão de paz” (controlando o cessar-fogo desde o fim da guerra).
Confusão nas relações internacionais da região: A Armênia é apoiada pela Rússia, que não compra briga com o Azerbaijão porque ambos possuem uma boa relação. Durante a guerra de 2020, que com o tempo foi sendo tratada como religiosa, já que o Azerbaijão destruía as igrejas dos territórios conquistados e utilizava os alto-falantes das cidades para propagar o islamismo, e a Armênia levava os seus líderes religiosos cristãos ortodoxos para a frente de batalha, o Ocidente acabou escolhendo o lado armênio. Vários líderes internacionais do Ocidente apoiaram publicamente o país e várias manifestações pró-Armênia eram registadas diariamente. O mundo islâmico apoiou incondicionalmente o Azerbaijão. Israel, que geralmente segue o caminho ocidental, nesta guerra fornecia os drones kamikaze (loitering munition) que o Azerbaijão utilizou durante todo o conflito (Harop). Irã, que geralmente segue caminhos contra o Ocidente, literalmente chegou a se preparar militarmente para defender a cristã ortodoxa Armênia, mesmo sem fazer parte do acordo de defesa mútua que deveria guardar o país -e que apenas assistiu a Armênia perder a guerra em 2020-. A Turquia, que chegou a enviar soldados e equipamentos para lutar ao lado do Azerbaijão, é membro da OTAN, que não se envolveu no conflito e que viu todos os seus outros membros apoiarem indiretamente a Armênia.
O território disputado em 2020 (Nagorno-Karabakh), apesar de ser culturalmente armênio, no papel (dissolução da União Soviética), pertence ao Azerbaijão; este lugar não está envolvido nos recentes conflitos.
Quirguistão e Tajiquistão (ex-Repúblicas soviéticas), que são membros deste grupo que possivelmente será convocado para defender a Armênia, reportaram ontem conflitos militares em suas fronteiras (o Quirguistão disse que seu vizinho Tajiquistão utilizou morteiros para atingir posições dentro de seu território, e que isso teria iniciado um conflito armado entre os militares da fronteira).
(em atualização)