BRASÍLIA, 20 de junho — A cotação do dólar comercial avançou 0,38% e alcançou nesta quinta-feira (20) a maior cotação desde o inicio do governo após o presidente Lula renovar suas críticas ao Banco Central e comentar, durante uma entrevista à rádio Verdinha de Fortaleza, sobre a decisão que foi tomada ontem pelo Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central do Brasil de manter a taxa básica de juros da economia, conhecida como Selic, em 10,50%.
Como esperado, a decisão do COPOM foi unânime entre os seus nove diretores, que incluem quatro indicados por Lula, e foi apoiada por Gabriel Galípolo, que será o próximo presidente do Banco Central por indicação do próprio mandatário.
A moeda norte-americana, que pela manhã caiu para R$ 5,385 devido ao otimismo com a decisão sobre os juros, subiu rapidamente após as críticas de Lula e encerrou esta quinta-feira cotada em R$ 5,462, o maior valor em dois anos.
“Eu fui presidente [durante] oito anos. Presidente da República nunca se mete nas decisões do COPOM e do Banco Central […] [Henrique] Meirelles tinha autonomia comigo o tanto que tem esse rapaz de hoje (Campos Neto) […] Só que o [Henrique] Meirelles eu tinha o poder de tirar, como FHC (Fernando Henrique Cardoso) tirou tantos, e outros presidentes. Aí entenderam que era importante colocar no BC alguém que tivesse autonomia. Autonomia de quem? Pra servir quem? Atender quem? […] Então, foi uma pena. Foi uma pena que o Copom manteve, porque quem está perdendo com isso é o Brasil, é o povo brasileiro. Quanto mais a gente pagar de juros, menos dinheiro a gente tem para investir aqui dentro […] A decisão do Banco Central foi investir no mercado financeiro, foi investir nos especuladores que ganham dinheiro com juros. Nós queremos investir na produção” -Lula
Como a decisão do COPOM foi vista pelo mercado como técnica, por conta da unanimidade, as críticas de Lula geraram receios entre os investidores, que perceberam um novo clima ruim nas relações entre governo e Banco Central. Isso levou alguns investidores a transferirem novamente seus recursos de risco para outros países emergentes com perspectivas econômicas mais favoráveis do que as do Brasil.
As críticas do presidente também tiveram um impacto negativo no Ibovespa, que fechou próximo à mínima do dia, apesar de manter um leve avanço de 0,15%, alcançando os 120.445 pontos.
Como razão para sua decisão de manter a taxa de juros e interromper o ciclo de sete quedas, o COPOM destacou as incertezas na economia e o desalinhamento das expectativas de inflação.
Na última reunião do colegiado, os quatro diretores indicados por Lula votaram pela queda 0,5 ponto percentual na taxa de juros, enquanto os cinco indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro votaram por uma queda menor, de 0,25 (venceram por maioria).
Desde então, Lula, que já tinha cessado seus ataques ao presidente do Banco Central Roberto Campos Neto a pedido de sua equipe econômica, retomou suas críticas, acusando-o de “ter lado político” e de agir para “prejudicar o país”.
O COPOM costuma se reunir a cada 45 dias para decidir a taxa de juros do país.
As próximas reuniões do colegiado estão agendadas para os dias 30 e 31 de julho, 17 e 18 de setembro, 5 e 6 de novembro, e 10 e 11 de dezembro.
Apesar das críticas de Lula, interlocutores do mandatário e da área econômica descartaram a possibilidade de que o voto de Gabriel Galípolo pudesse prejudicar sua indicação como próximo presidente do Banco Central.
Relevante: Em um ranking de moedas de 118 países, o Real está entre as cinco moedas que mais perderam valor em 2024 (queda acumulada de 11,4%), ultrapassando nos últimos dias as moedas da Argentina e do Japão, e ficando atrás somente das moedas da Nigéria, do Egito, do Sudão do Sul e de Gana.
(Matéria em atualização)