
BRASÍLIA, 27 de maio — O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luís Roberto Barroso (67), criticou nesta terça-feira, durante a abertura da sessão extraordinária do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a maneira como a imprensa brasileira e pessoas que classificou como ‘incultas’ repercutiram um vídeo em que aparece cantando Garota de Ipanema ao lado do CEO do iFood, Diego Barreto. A gravação foi feita em um “jantar beneficente” realizado na semana passada, na casa do empresário, com o objetivo oficial de arrecadar recursos para bolsas de estudo destinadas aos 100 primeiros candidatos negros aprovados no Exame Nacional da Magistratura.
“No Brasil, existem atualmente duas grandes categorias de pessoas: as que fazem alguma coisa e as que têm razão. Portanto, a gente tem que continuar fazendo e deixar para as que têm razão e precisam vender jornal falando bobagem. Fizemos um jantar para arrecadação de fundos com empresários em São Paulo. […] O meu comentário indignado é que a gente fez um jantar para arrecadar fundos para o programa e a matéria disse que eu me reuni com empresários a pretexto de arrecadar fundos. Então tá bom [risos] A incultura é um problema difícil de sanar no Brasil” -ministro Barroso
O vídeo que gerou a polêmica e viralizou no Brasil mostra o ministro Barroso, visivelmente animado, cantando Garota de Ipanema ao lado da cantora Paula Lima e do CEO do iFood, cuja empresa tem interesse em processos em tramitação no Supremo.
De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), parceira da iniciativa junto com a Universidade Zumbi dos Palmares, pelo menos 13 grandes empresas, entre elas iFood, Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), ABBC (Associação Brasileira de Bancos), Ambev, FGC, Multiplan, Globo, Itaú, Telebrasil, Santander, Grupo SIMPAR e Cosan, realizaram doações ao programa milionário.
Muito em breve, o Supremo julgará, com repercussão geral, o Tema 1291, que trata da relação de trabalho entre motoristas e entregadores de aplicativo e empresas como iFood, Uber e Rappi — uma decisão com óbvios impactos para o iFood, liderado por Diego Barreto.
Embora a ação concreta tenha como alvo um recurso da Uber, a tese fixada será aplicada a todos os casos semelhantes em tramitação na Justiça, inclusive ao iFood (repercussão geral), motivo pelo qual o próprio Diego Barreto compareceu pessoalmente à audiência pública sobre o tema no Supremo em dezembro de 2024.
O ministro ainda não se pronunciou sobre os pedidos de esclarecimento a respeito de uma eventual suspeição (CPC, art. 145, incisos I e II) para julgar casos envolvendo o iFood (amici curiae no recurso da Uber), diante da relação de intimidade e das alegações de uma possível “parcialidade presumida” do magistrado.
O Supremo se limitou a informar que o evento foi organizado pela iniciativa privada com o objetivo de arrecadar recursos para conceder bolsas de estudo a candidatos negros que desejam ingressar na magistratura.
Caberá ao ministro Edson Fachin relatar o processo e ao presidente do Supremo, Barroso, definir a data do julgamento.
(Matéria em atualização)