BUENOS AIRES, 28 de junho — Entre os itens que entraram na lista da linha de financiamento do BNDES que foi anunciada pelo governo Lula durante a última visita (a quinta deste ano) do presidente argentino ao Brasil no início desta semana, está o blindado brasileiro Guarani 6×6, fabricado pela empresa IVECO em Minas Gerais; o acordo havia sido destravado em janeiro deste ano, quando os dois presidentes assinaram um protocolo de intenção em Buenos Aires, e estava paralisado por conta da grave situação econômica da Argentina.
O meio pelo qual o financiamento poderá ser realizado foi brevemente explicado pelos governos durante a visita do presidente brasileiro à capital Argentina no início deste ano.
“Encorajarão a negociação do contrato entre o Exército Argentino e a IVECO Veículos de Defesa para a incorporação de 156 unidades do Veículo Blindado de Combate sobre Rodas ‘Guarani 6×6’ [e mais 5 veículos de instrução], incluindo a transferência de tecnologia, a compensação para o aumento progressivo na fabricação de peças na Argentina, o apoio logístico e para o treinamento de tripulações e pessoal técnico do Exército Argentino” -trecho do acordo que foi assinado em janeiro
O acordo, que será financiado pelo BNDES e é chamado de VCBR (Vehículos de Combate Blindados a Ruedas) pelo Exército Argentino, possui um valor de R$ 1,93 bilhão (R$ 12 milhões por unidade) e envolverá a compra de 161 unidade do blindado Guarani -sendo 5 deles unidades de instrução- e a transferência de tecnologia (o motor do veículo já é produzido na Argentina).
O assunto teria sido um dos temas principais da viagem do Comandante das Forças Armadas, General Tomás Miguel Paiva, à Argentina, no fim do mês passado. Na viagem, o General recebeu a mais alta condecoração concedida a militares estrangeiros (Gran Cruz de la Orden a los Servicios Distinguidos), diretamente das mãos do Comandante do Exército argentino, Guilherme Pereda.
De acordo com a premiada revista militar espanhola InfoDefensa e o portal militar argentino Zona Militar, o acordo de financiamento dos veículos foi descrito nominalmente no plano de financiamento como “[…] Estruturar e decidir sobre uma operação de crédito para financiar a exportação de blindados Guaranis”, e será gerido no lado brasileiro pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), pela Agencia Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias (ABGF), pelo Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações (COFIG), e no lado argentino pelo Ministério da Economia e Ministério da Defesa.
Dos 156 veículos Guarani (161 se incluídos os veículos de instrução) operacionais que fazem parte do acordo, 120 deles são da variação VCBR-TP (blindados de transporte de tropas equipados com uma torre ARES SARC REMAX 4), 27 são da variação VCBR-CI (viaturas de combate de infantaria equipadas com a torre SARC UT30BR2 com canhão de 30mm), e 9 deles são da variação VCBR-PC (viaturas posto de comando).
A Argentina, que vive uma das mais duras crises econômicas de sua história, com uma inflação que deve atingir 149% neste ano (muito acima dos 126% que era esperado no começo do ano), além de estar passando por uma seca histórica, já havia testado uma unidade deste veículo em maio de 2021 (cedida via empréstimo de 30 dias pelo 5º Regimento de Cavalaria Mecanizado (5° RCMec) do Brasil.
O país também passará por eleições presidenciais no fim deste ano (22 de outubro) e por primárias que decidirão os candidatos que disputarão o pleito (ambos, o presidente argentino Alberto Fernández e a vice-presidente e ex-presidente Cristina Kirchner já disseram que não serão candidatos).
(Em atualização)