Com prejuízo 115% superior ao de 2024 e o maior déficit anual em quase uma década, Correios abrem licitação para contratar carros de luxo e motoristas para seus diretores

Imagem ilustrativa por Joédson Alves/Agência Brasil

BRASÍLIA, 1 de junho — Com o custo ainda mantido em sigilo, os Correios abriram oficialmente uma licitação para fornecer, por 30 meses, carros de luxo, motoristas e combustível aos diretores da estatal, que enfrenta uma grave crise financeira atribuída, segundo a própria empresa, à polêmica “taxa das blusinhas”, responsável por um forte desgaste político e por uma arrecadação de apenas R$ 808 milhões em 2024 em relação a 2023 — montante 14,8 vezes inferior ao total desembolsado pelo Judiciário no mesmo ano com salários acima do teto constitucional e os chamados “penduricalhos”.

Segundo o modelo de contrato proposto, os veículos incluem um utilitário esportivo grande, destinado ao “executivo I”, e três sedãs médios para “executivos II”. Todos devem ser “preferencialmente pretos”, a “combustão ou híbridos”, com “no mínimo 150 cavalos de potência”, “central multimídia touch screen Android Auto e Apple Car Play”, e “porta-malas com capacidade de 300 litros”. Cada carro poderá rodar até 1.000 quilômetros por mês por um valor fixo, com cobrança adicional prevista para até 115 quilômetros extras mensais.

A notícia da licitação surge na mesma semana em que a estatal divulgou um prejuízo de R$ 1,7 bilhão no primeiro trimestre de 2025 — o pior resultado para o período desde 2017 e 115% superior ao déficit de R$ 801 milhões apurado no mesmo intervalo de 2024.

No início deste mês, os Correios também divulgaram o aguardado balanço anual de 2024, confirmando um prejuízo de R$ 2,6 bilhões no ano passadoMAIS DE QUATRO VEZES o valor registrado em 2023 (primeiro prejuízo bilionário desde 2016).

Balanço dos Correios

De acordo com o presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos — indicado pelo grupo de juristas pró-Lula Prerrogativas (“Prerrô”) e conhecido como “Churrasqueiro do Lula” —, em janeiro deste ano a estatal perdeu mais de 60% do mercado de transporte de compras internacionais.

Os dados reforçam o caminho alarmante demonstrado pelas Estatísticas Fiscais do Banco Central no fim do ano passado, que indicam que as estatais brasileiras tiveram em 2024 o maior deficit dos últimos 22 anos.

Além da expressiva queda na arrecadação, este gráfico com dados oficiais dos Correios demonstra que, ao longo de toda a gestão do presidente Fabiano dos Santos, os gastos dos Correios cresceram de forma contínua, sem qualquer adequação ao contexto de redução das receitas.

A empresa virou alvo de polêmica no ano passado ao gastar pelo menos R$ 34 milhões em patrocínios de eventos culturais em 2024 para “melhorar a imagem institucional” e “ampliar o alcance e a visibilidade da marca” — apesar de não ter concorrência em boa parte dos serviços postais. O montante representa um aumento de 916,5% em relação ao gasto do ano anterior e de 7.807% na comparação com o período de 2019 a 2022, superando a média anual de R$ 430 mil registrada nesse intervalo.

Entre os eventos patrocinados pela estatal em 2024 está a 36ª Feira Internacional do Livro, realizada em abril em Bogotá, Colômbia, que teve como temática a natureza e recebeu, sozinha, R$ 600 mil em patrocínio. O presidente Lula, que mantém uma estreita amizade com o presidente colombiano Gustavo Petro, foi um dos convidados e discursou na abertura do evento.

Uma das exigências para o patrocínio do evento na Colômbia, onde a estatal brasileira não atua, foi a realização de uma palestra intitulada “Sustentabilidade nos Correios: impacto e eficiência para todos”. A apresentação foi conduzida pela diretora de Governança e Estratégia da estatal, Juliana Picoli Agatte, cargo indicado pelo provável próximo presidente do PT, Edinho Silva.

Outros eventos que ocupam as primeiras posições no top 10 de patrocínios dos Correios são: Lollapalooza (R$ 6 milhões), Confederação Brasileira de Ginástica (R$ 4,5 milhões), Turnê Templo Rei, com Gilberto Gil (R$ 4 milhões), Jogos Universitários Brasileiros (R$ 3 milhões), Casa Brasil (R$ 2 milhões), Funn Festival (R$ 1,9 milhão), E-Commerce Brasil 2024 (R$ 1,2 milhão), Bumba Meu São João (R$ 1 milhão) e Sertões BRB 2024 (R$ 1 milhão).

Os Correios, que no final de 2024 distribuíram um “vale-peru” de R$ 2.500 a cada um de seus cerca de 85 mil funcionários, quebrando a tradição de reajustes salariais somente em períodos de lucro, também aumentaram os salários de seus seis diretores, que ainda recebem benefícios como auxílios de custo e moradia, de R$ 40,6 mil para R$ 46,3 mil mensais.

A estatal contratou dois empréstimos no final de 2024, que somam R$ 550 milhões, com o objetivo de manter as operações em funcionamento. Internamente, porém, já se admite que os Correios planejam recorrer a um novo empréstimo — desta vez, de bilhões de reais — para conseguir continuar operando.


(Matéria em atualização)

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