Crise diplomática: Equador prende ex-vice-presidente que estava sob asilo político DENTRO da Embaixada do México em Quito

Ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas | Imagem por ANDES/Micaela Ayala V.

QUITO, 6 de abril — O governo equatoriano confirmou agora que prendeu, dentro da embaixada mexicana, o ex-presidente do equatoriano Jorge Glas, que havia sido processado e condenado duas vezes pela Justiça local por envolvimento em esquemas de corrupção com desvio de dinheiro público em casos ligados às polêmicas construtoras OAS e Odebrecht (hoje NOVONOR).

Em uma de suas condenações, Glas é acusado de desviar dinheiro público que seria destinado à reconstrução de vilarejos após um forte terremoto que aconteceu no país em 2016.

Momento da prisão

Jorge Glas serviu como vice-presidente do Equador entre maio de 2013 e novembro de 2017, durante o governo do ex-presidente esquerdista Rafael Correa, e já cumpriu 6 meses de prisão.

Rafael Correa também foi condenado nos mesmos casos de corrupção e atualmente vive em Bruxelas, na Bélgica.

Glas havia recebido oficialmente asilo político do México e estava dentro da embaixada mexicana desde dezembro.

“DEFENDEMOS A SOBERANIA NACIONAL, ZERO IMPUNIDADE. O Governo Nacional informa à população que Jorge Glas Espinel, condenado a pena privativa de liberdade pela justiça equatoriana, foi detido nesta noite e colocado à disposição das autoridades competentes. Toda embaixada tem um único propósito : servir como um espaço diplomático com o objetivo de estreitar as relações entre os países. Nenhum criminoso pode ser considerado um perseguido político. Jorge Glas foi condenado com sentença executória e tinha um mandado de prisão emitido pelas autoridades competentes. O Equador enfrenta um conflito armado nacional, cujas repercussões na democracia e na paz cidadã serão apenas incrementais se continuarem ou forem tolerados atos que interfiram no Estado de Direito, na soberania nacional ou em questões de interferência nos assuntos internos do país. Ao abusar das imunidades e privilégios concedidos à missão diplomática que abrigava Jorge Glas e conceder um asilo diplomático contrário ao quadro jurídico convencional, sua captura foi realizada. O Equador é um país soberano e não vamos permitir que nenhum criminoso fique impune. Reiteramos nosso respeito ao povo mexicano que compartilha nosso sentimento pela luta contra a corrupção que afeta nossos países.” -nota assinada pela Presidência do Equador

Nota publicada pelo governo equatoriano

A prisão de Jorge Glas foi respondida quase que imediatamente pelo México com o rompimento total de relações entre os dois países.

O anúncio de rompimento de relações foi publicado pelo próprio presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador em um longo texto no qual o mandatário chamou o ato de “violação flagrante do direito internacional e da soberania do México”.

“Acabei de ser informado por Alicia Bárcena, nossa secretária de Relações Exteriores, que policiais do Equador entraram à força em nossa embaixada e prenderam o ex-vice-presidente desse país, que estava refugiado e solicitando asilo devido à perseguição e assédio que enfrentava. Trata-se de uma violação flagrante do direito internacional e da soberania do México, por isso instruí nossa chanceler a emitir um comunicado sobre este ato autoritário, proceder legalmente e imediatamente declarar a suspensão das relações diplomáticas com o governo do Equador.” -anúncio de rompimento de relações


HISTÓRICO DA CRISE: Durante uma coletiva de imprensa realizada no México, o presidente mexicano López Obrador comentou sobre o assassinato do ex-candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio, que foi morto em um evento de campanha em agosto do ano passado, insinuando que o ataque teve um papel fundamental na eleição do atual presidente, o empresário Daniel Noboa, de centro, que derrotou a candidata socialista Luisa González por 52,30% a 47,70%.

Como resposta ao comentário, que foi duramente criticado até mesmo dentro do México, o governo equatoriano declarou a embaixadora mexicana no país, Raquel Serur, como “persona non grata” (deixa de ser bem-vinda ao país e sua visita é oficialmente considerada indesejável).

O movimento foi seguido de um comunicado do Ministério das Relações Exteriores mexicano pedindo que sua embaixadora retornasse ao México “para salvaguardar sua segurança e integridade”, ressaltando que a embaixadora sempre seguiu os princípios da política externa estabelecidos na Constituição e no direito internacional.

No lugar de Raquel Serur, o governo mexicano nomeou Roberto Canseco, o atual chefe do Ministério das Relações Exteriores da missão no país, para assumir a liderança da embaixada mexicana no Equador, que até então continuaria a “operar normalmente”.

Ontem, após a polêmica troca de farpas, o governo mexicano anunciou que estava concedendo asilo político ao ex-vice-presidente equatoriano Glas, que estava na embaixada desde dezembro do ano passado.

Desde então, a embaixada mexicana estava cercada por policiais e militares, o que foi chamado pelo México de “assédio claro” à embaixada e uma “violação flagrante” da Convenção de Viena.


Roberto Canseco, que estava ocupando o posto de chefe da missão consular mexicana em Quito, estava presente no momento da prisão do ex-vice-presidente Glas. Diante das câmeras, ele disse, aos gritos: “como criminosos, eles invadiram a embaixada do México no Equador! isso não pode ser, é uma loucura!”.

Roberto Canseco no momento da prisão
Roberto Canseco no momento da prisão

Ainda não é possível prever quais serão as medidas que serão adotadas pelos dois países ou a repercussão internacional da questão.


GUERRA CONTRA O CRIME ORGANIZADO E O NARCOTRÁFICO: Nos últimos anos, o país tem enfrentado duríssimos conflitos contra a narcoviolência. Durante o governo anterior, diversas áreas do país foram submetidas a estados de emergência e toques de recolher por prolongados períodos.

O Equador, que escoa boa parte da cocaína dos maiores produtores do mundo, Colômbia e Peru, vem fazendo desde 2021 apreensões recordes da droga, boa parte delas sendo destinada a portos europeus.

Outro recorde local que foi batido recentemente foi o aumento expressivo na taxa de homicídios do país, que dobrou entre os anos de 2021 (2.496 mortes violentas) e 2022 (4.761 mortes violentas), e quase dobrou novamente em 2023, no ano mais violento da história (7.878 mortes violentas e apenas 584 crimes solucionados). Localmente e em veículos internacionais de mídia, este aumento dos números é constantemente chamado de ‘taxa brasileira’.

Os números de violência no Equador chegaram a níveis tão altos que o ex-presidente Guillermo Lasso apareceu em uma transmissão surpresa em cadeia nacional em abril do ano passado liberando o porte e a posse civil de armas de fogo como medida para conter a narcoviolência no país.


(Matéria em atualização)

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