CARACAS, 26 de janeiro — O “Tribunal Supremo de Venezuela”, equivalente ao nosso Supremo Tribunal Federal, confirmou hoje a inelegibilidade da candidata presidencial venezuelana Maria Corina Machado, vencedora das primárias da oposição local (recebeu mais de 90% dos votos), que deve -ou deveria- enfrentar ainda neste ano o ditador Nicolás Maduro em eleições gerais.
A decisão do Supremo venezuelano ratificou uma outra decisão da Controladoria-Geral da República da Venezuela de julho do ano passado, que atendendo a um pedido do deputado aliado do regime José Brito, estendeu uma antiga e já extinta punição aplicada contra a candidata.
Corina, uma “católica ferrenha”, é conhecida localmente como “dama de ferro” e sempre representou a ala mais contrária aos chavistas, rejeitando qualquer tipo de acordo e sendo opositora e crítica até do governo paralelo de Juan Guaidó.
No 𝕏 (Twitter), a candidata acusou o regime venezuelano de “acabar com o Acordo de Barbados”, um acordo fechado em 2023 na Noruega que -apenas- em teoria traçava um plano para rever inelegibilidades e criava garantias de eleições democráticas no país.
Corina Machado, pedindo que ninguém duvide, também disse que “Maduro e o seu sistema criminoso escolheram o pior caminho para eles: eleições fraudulentas. Isso não vai acontecer.”
Histórico da decisão: Em fevereiro de 2014, Corina foi uma das maiores líderes das grandes manifestações contrárias ao regime venezuelano que foram registradas no país.
Seu mandato na Assembleia Nacional venezuelana, que na época era comandada por Diosdado Cabello, um dos maiores narcotraficantes da América do Sul, hoje um dos ‘braços direitos’ de Maduro e líder da milícia armada do regime, os “Colectivos”, foi cassado cerca de um mês depois.
Em 2015, com o argumento de que Corina não havia declarado patrimônios que havia recebido (o que foi negado por ela), a Controladoria-Geral venezuelana condenou a opositora a não exercer cargos públicos por 12 meses e a proibiu de deixar o país.
Em teoria, Corina já estava liberada para concorrer às eleições venezuelanas, porém a Corregedoria-Geral local decidiu em julho do ano passado, após um pedido de revisão de um deputado aliado do regime, que por ela ter apoiado as sanções dos Estados Unidos contra o ditador Maduro, a punição receberia uma “extensão” de 15 anos, contando da data da decisão.
Desde então, Corina aguardava um recurso no Supremo venezuelano, que poderia reformar a decisão por conta de um acordo entre oposição e regime que foi firmado na Noruega (acordo não cumprido).
Controversa posição pública brasileira: Em março do ano passado, ao retornar ao Brasil após uma visita com direito a encontro com o ditador Nicolás Maduro, o assessor especial da Presidência Celso Amorim, que cumpre a função de chanceler informal do governo, mesmo com os claros sinais de que Maduro não respeitaria qualquer tipo de eleições limpas na Venezuela, disse em entrevistas que “em 20 anos” de relações com o país, ele nunca havia visto “um clima tão grande de incentivo à democracia”.
Em maio e junho do mesmo ano vieram mais duas falas polêmicas sobre a Venezuela que partiram do próprio presidente Lula.
Em maio, o mandatário brasileiro criou polêmica ao dizer, ao lado de Maduro, que o autoritarismo e a “antidemocracia” venezuelana são uma narrativa; “nossos adversários vão ter que pedir desculpa”.
Em junho, em uma entrevista concedida pelo presidente Lula à Rádio Gaúcha, o presidente disse que o “conceito de democracia é relativo” e que “quem quiser derrotar o Maduro, derrote nas próximas eleições e assuma o poder”, dando ar de legitimidade ao processo eleitoral venezuelano que é contestado até pela ONU.
Ambas as falas foram seguidas de uma série de reparações e ajustes pela equipe próxima do presidente, que passou semanas modulando o discurso que deveria ser utilizado em declarações públicas.
(Matéria em atualização)