BRASÍLIA, 21 de junho — De acordo com dados obtidos pelo jornal Folha de S. Paulo via Lei de Acesso à Informação (LAI), o presidente Lula se vacinou sigilosamente contra a dengue (vacina japonesa Qdenga) pela rede privada no dia 5 de fevereiro deste ano, 4 dias antes do Brasil iniciar sua campanha nacional contra a doença e enquanto as doses compradas pelo governo ainda estavam sob análise para um controle de qualidade.
De acordo com os dados, que não revelaram o custo do medicamento, a fabricante e nem o local da aplicação, Lula teria tomado a sua segunda dose, também sigilosamente, no dia 6 de maio (pelo intervalo, a vacina teria sido da fabricante Takeda, a mesma que é administrada no SUS).
Com 6 milhões de casos prováveis e 4 mil mortes pela doença em 2024, além de outras 2,8 mil em investigação, o Brasil vive hoje sua pior epidemia de dengue.
Os registros de casos e mortes feitos até junho deste ano já superam o total do ano passado.
A escassez de vacinas na rede pública tornou o governo alvo de críticas e chegou a fazer com que o Ministério da Saúde limitasse a vacinação ao grupo de 10 a 14 anos.
Devido ao alto número de casos e à grande procura por vacinas na rede privada, além das grandes compras feitas pelo poder público, o imunizante chegou a ficar indisponível (acabou) nos estabelecimentos privados entre os meses de fevereiro e março.
Até agora, para a campanha de 2024, o Ministério da Saúde comprou e recebeu de doações 6,5 milhões de doses da vacina Qdenga, suficientes para imunizar apenas 3,25 milhões de pessoas.
Outras 9 milhões de unidades foram compradas para 2025 (capacidade de imunizar 4,5 milhões de pessoas).
O governo planeja produzir essa vacina na Fiocruz, mas a fundação já afirmou em documentos internos que não possui capacidade física para produzir o imunizante. Para isso, seria necessário interromper sua produção atual e deixar de fornecer outras vacinas ou construir uma nova fábrica.
O último governo havia sido duramente criticado por não divulgar publicamente as vacinações do presidente Jair Bolsonaro, que sempre falava abertamente sobre as vacinas e medicamentos que utilizava ou não.
No início do atual governo, o sigilo da carteira de vacinação contra COVID do ex-presidente Jair Bolsonaro foi quebrado pela Controladoria-Geral da União sob a justificativa de que a informação possuía um “interesse público geral e preponderante”.
Ainda de acordo com a Folha, apesar da ausência de informações sobre a vacinação contra a dengue, os documentos enviados via Lei de Acesso à Informação também continham os registros de vacinação de Lula contra a COVID.
Segundo os dados registrados no sistema do SUS, Lula teria recebido sete aplicações, sendo que a última foi feita em 17 de junho com o imunizante da farmacêutica Moderna, “adaptado para a variante XBB”.
Todos esses dados só foram obtidos após o jornal recorrer da resposta inicial ao pedido de acesso à informação e depois da Folha submeter um novo pedido (três requisições).
Inicialmente, antes do recurso, o governo só havia respondido que Lula “recebeu todas as doses de vacinas compatíveis com a sua idade e já disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, relativas à Covid-19 e à dengue, conforme orientação de sua equipe médica”.
(Matéria em atualização)