JERUSALEM, 21 de fevereiro — Em novo movimento israelense contra a fala do presidente Lula que comparou Israel à Hitler durante um discurso na Etiópia, Israel Katz, o chanceler israelense que desde então vem exigindo um pedido de desculpas do mandatário brasileiro e o declarou persona non grata em Israel (deixa de ser bem-vindo ao país e sua visita é oficialmente considerada indesejável), divulgou há pouco um vídeo, em português, dos relatos de uma brasileira que sobreviveu ao ataque do grupo terrorista do Hamas no 7 de outubro.
“A brasileira Rafaela Triestman estava no festival de música Nova quando terroristas do Hamas atacaram Israel, em 7 de outubro. Rafaela sobreviveu, mas seu namorado Ranani Glazer foi brutalmente assassinado por terroristas do Hamas, juntamente com vários dos seus amigos. Presidente @LulaOficial, após a sua comparação entre a nossa guerra justa contra o Hamas e os atos desumanos de Hitler e dos nazistas, a Rafaela tem uma mensagem que o senhor deveria ouvir.” -Chanceler israelense Israel Katz
A brasileira que aparece no vídeo, Rafaela Treistman, era namorada de um dos três brasileiros (Ranani Nidejelski Glazer, 24) que foram mortos pelo Hamas no evento musical que estava sendo realizado na fronteira com Gaza e que acabou com mais de 300 mortos.
Os outros brasileiros que foram mortos neste evento são Karla Stelzer Mendes (42) e Bruna Valeanu (24).
O filho israelense do brasileiro Jairo Varella Filho, Gavriel Yishay Barel, de 22 anos, também foi morto no evento*
Bruna, que só tinha irmã e mãe no país, foi homenageada em seu velório por milhares de desconhecidos israelenses que se sentiram comovidos com a sua morte. Os moradores locais fizeram uma fila de 2km na porta do cemitério para prestar suas últimas homenagens à brasileira, entre eles, o próprio atual porta-voz do governo israelense Eylon Levy, que viralizou no Brasil ao narrar e registrar o congestionamento para chegar o local.
HISTÓRICO DA POLÊMICA: No último domingo (18), durante um discurso na Etiópia, o presidente Lula virou notícia no mundo inteiro responder questionamentos sobre o regime venezuelano ter expulsado o órgão de direitos humanos da ONU da Venezuela, sobre o financiamento brasileiro da UNRWA (Agência da ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina), órgão que vem perdendo ajuda de vários países por conta da ligação de vários de seus funcionários com o grupo terrorista Hamas, e sobre a morte do principal opositor russo Alexei Navalny, que de acordo com o regime russo teve uma “morte súbita” no último dia 16/02 enquanto tomava seu banho de sol em um presídio isolado na Sibéria à uma temperatura de -20°C.
A questão mais polêmica ficou por conta da parte que envolveu Israel, por conta de Lulater comparado, citando números exclusivamente do Hamas, o país à Hitler.
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio […] Olha, se teve algum erro nessa instituição que recolhe o dinheiro, apura-se quem errou, mas não suspenda a ajuda humanitária […] O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus” -presidente Lula
O discurso gerou uma enorme repercussão e o próprio governo israelense chegou a responder o mandatário brasileiro exigindo um pedido de desculpas e declarando Lula “persona non grata” em Israel (deixa de ser bem-vindo ao país e sua visita é oficialmente considerada indesejável).
Anteontem, dobrando a aposta no conflito diplomático com Israel, o governo brasileiro, que se sentiu ofendido com o nível da resposta israelense, chamou de volta seu embaixador em Tel Aviv Frederico Meyer para consultas.
O retorno de Meyer ao Brasil representa na diplomacia uma medida excepcional que simboliza desconforto e descontentamento nas relações entre os países (agravamento da situação).
Ontem, o chanceler israelense Israel Katz voltou a exigir, em uma postagem em português nas redes sociais oficiais do governo, um pedido de desculpas de Lula, chamando sua comparação de Israel com Hitler de “promíscua” e “delirante”.
A mensagem foi respondida pelo ministro das Comunicações da ala política do governo, Paulo Pimenta, que citando novamente números do Hamas, disse que o chanceler israelense distribui conteúdo falso atribuindo ao presidente opiniões que jamais foram ditas por ele”, que “o Governo Netanyahu se nutre da guerra para se manter no poder”, que “a maioria da população israelense rejeita a política extremista do governo”, que “em nenhum momento o presidente fez críticas ao povo judeu”, e que “Isolado, o governo de Israel adota prática da extrema-direita e aposta em Fake News para tentar se reafirmar interna e internacionalmente”.
O refém Brasileiro: Entre os reféns que ainda se encontram na lista de sequestrados pelas Brigadas al-Qassam, o braço armado do grupo terrorista Hamas em Gaza, está o brasileiro-israelense Michel Nisenbaum, de Niterói (RJ).
Michel tem 59 anos, trabalha como técnico de informática em Israel, é pai de duas filhas e avô de seis netos. Ele precisa de cuidados médicos para tratar a diabetes e a doença de Crohn.
O brasileiro foi visto pela última vez quando estava indo buscar uma neta em uma base próxima de Gaza. Seu veículo foi encontrado queimado e uma das chamadas telefônicas da família foi atendida por pessoas que gritavam “viva o Hamas”.
No último dia 30 de novembro, Michel, que até o momento não apareceu em listas de negociações, foi citado pelo presidente Lula durante a visita do mandatário ao Qatar. De acordo com Lula, no primeiro posicionamento vindo de um oficial brasileiro sobre o estado do refém, Michel poderia “ser liberado por esses dias”.
“O nosso coração está pingando sangue e eu não tenho palavras para poder explicar o que está passando com toda a nossa família. A nossa mãe chora o tempo todo e de uma família completa, passamos a ser uma família com menos um. Não podemos voltar a vida que tínhamos antes e até agora estamos vivendo dentro de um pesadelo. Eu gostaria de acordar bem e feliz desse mesmo pesadelo” -Mary Shohat, irmã de Micheldurante discurso no Senado brasileiro (11/12/2023)
Há cerca de um mês e meio, Michel ganhou mais um neto (o sexto), que foi batizado de Oz (coragem em hebraico).
Apoio inesperado francês: Parlamentares franceses criam no fim do ano passado a operação “um refém, um parlamentar” para “apadrinhar” reféns israelenses que estão detidos em Gaza pelo grupo terrorista Hamas e “defender suas causas até que eles voltem para casa”.
O brasileiro Michel Nisenbaum foi apadrinhado pelo deputado de centro Robin Reda, do partido do presidente Macron (não pertence ao mesmo grupo político por ter divergências na questão da reforma da previdência, na lei de segurança global e na gestão da pandemia*).
(Matéria em atualização)