BRASÍLIA, 13 de novembro — O Ministério da Justiça e Segurança Pública se envolveu em mais uma polêmica após a revelação de que a “dama do tráfico amazonense”, Luciane Barbosa Faria (se apresenta como Luciana Farias), esposa (casados há 11 anos) do líder do Comando Vermelho no estado do Amazonas Clemilson dos Santos Farias, o “Tio Patinhas” (está cumprindo uma pena de 31 anos no presídio local de Tefé) teve ao menos duas audiências com assessores do ministro Flávio Dino em um período de 3 meses no início deste ano (em 19 de março e em 2 de maio); em nota (no final deste artigo), o MJSP confirmou a presença de Luciane, porém disse que ela integrava uma comitiva e que seria impossível ela ser identificada pelo setor de Inteligência.
Em março, Luciane esteve com o ex-deputado federal (não se reelegeu) Elias Vaz, que atualmente ocupa o cargo de secretário Nacional de Assuntos Legislativos do ministro Flávio Dino.
Em maio, Luciene esteve com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN), que já havia trabalhado com Dino no governo do Maranhão e foi anunciado no cargo ainda no governo de transição.
Nos dois episódios públicos, o nome de Luciane, que foi condenada em segunda instância junto com o marido e está recorrendo em liberdade, não foi registrado nas agendas oficiais.
Luciane foi à Brasília visitar o Ministério da Justiça como presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas.
De acordo com a Polícia Civil do estado do Amazonas, a associação, que foi criada no ano passado e diz defender os direitos dos presos, na verdade defende os detentos ligados à facção Comando Vermelho, que ainda segundo a polícia, financia a ONG com dinheiro do tráfico de drogas.
De acordo com o Ministério Público, a ‘dama do tráfico amazonense’ servia como “braço financeiro” dos negócios do marido; “[…] exercia papel fundamental também na ocultação de valores oriundos do narcotráfico, adquirindo veículos de luxo, imóveis e registrando ‘empresas laranjas’. Graças ao trabalho, ela conquistou confiabilidade da cúpula da Organização Criminosa Comando Vermelho”.
Durante suas duas passagens (públicas) recentes por Brasília, Luciane ainda teve encontros dentro do Ministério da Justiça com a titular da Ouvidora Nacional de Serviços Penais (ONASP), Paula Cristina da Silva Godoy, e com o diretor de Inteligência Penitenciária da SENAPPEN, Sandro Abel Sousa Barradas (novamente, o nome de Luciane não consta nos registros oficiais).
Nas mesmas viagens à Brasília, em março e em maio deste ano, Luciane ainda publicou fotos em suas redes sociais com os deputados André Janones, Guilherme Boulos e Daiana Santos, dentro da Câmara dos Deputados.
Tio Patinhas, como é conhecido o marido de Luciane, é tratado pelo MP e pela polícia local como um “indivíduo de altíssima periculosidade, com desprezo à vida alheia” que se utiliza de métodos violentos na prática dos crimes.
Entre os vários crimes violentos associados ao nome de Clemilson dos Santos Farias, está um assassinato em 2019 de um homem que foi encontrado morto em Manaus com uma folha de caderno no rosto com os dizeres: “devia Tio Patinhas”.
Tio Patinhas, preso desde 11 de dezembro de 2022, já havia sido preso em 2018 em um apartamento de luxo no Pernambuco, enquanto era o homem mais procurado pela polícia do Amazonas.
Ele estava solto desde janeiro do ano passado por ordem da juíza do Tribunal de Justiça do estado do Amazonas Rosália Guimarães Sarmento, que viu fragilidade nas provas contra Clemilson. Por conta da soltura, todos os bens apreendidos foram devolvidos ao ‘Tio Patinhas’.
Nota oficial do Ministério da Justiça que foi solicitada pelo jornal Estadão: No dia 16 de março, a Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL) atendeu solicitação de agenda da ANACRIM (Associação Nacional da Advocacia Criminal), com a presença de várias advogada. A cidadã mencionada no pedido de nota não foi a requerente da audiência, e sim uma entidade de advogados. A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes. Por não se tratar de assunto da pasta, a ANACRIM, que solicitou an agenda, foi orientada a pedir reunião na Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen). A agenda na Senappen e da ANACRIM aconteceu no dia 2 de maio, quando foram apresentadas reivindicações da ANACRIM. Não houve qualquer outro andamento do tema. Sobre atuação do Setor de Inteligência, era impossível a detecção prévia da situação de uma acompanhante, uma vez que a solicitante da audiência era uma entidades de advogados, e não a cidadã mencionada no pedido de nota. Todas as pessoas que entram no MJSP passam por cadastro na recepção e detector de metais.”
(Em atualização)