Ministério Público venezuelano, comandado por Maduro, abre investigação contra a oposição por conspiração, usurpação de funções, divulgação de informações falsas e vários outros crimes

Nicolás Maduro | Imagem por Eneas De Troya (CC)

CARACAS, 5 de agosto — O Ministério Público da Venezuela divulgou nesta noite um documento assinado pelo procurador-geral do país, Tarek William Saab, que assinou todos os pedidos de prisão e inelegibilidade de opositores na Venezuela desde o início da campanha eleitoral no país, dizendo que foi aberta uma investigação contra a opositora María Corina Machado e seu representante político Edmundo González, que disputou as últimas “eleições” presidenciais venezuelanas, pelos crimes de “associação para delinquir”, “conspiração”, “divulgação de informação falsa para causar inquietação”, “incitação à desobediência das leis”, “incitação à insurreição” e “usurpação de funções”.

A investigação foi anunciada minutos depois que o candidato de oposição divulgou um comunicado solicitando que, com base nos dados públicos e oficiais já divulgados (82% das atas de votação do país indicam que a oposição venceu com cerca de 67% dos votos), ele seja reconhecido como presidente-eleito da Venezuela.

“Venezuela e o mundo inteiro sabem que nas eleições de 28 de julho nossa vitória foi esmagadora. Desde o cidadão mais humilde, testemunha, membro de mesa, oficial das Forças Armadas Nacionais, polícia, até os organismos internacionais e governos, todos sabem disso. Com as atas em mãos, o planeta viu e reconheceu o triunfo das forças democráticas. Fizemos nossa parte. Realizamos a mais formidável mobilização cívica para que a vitória eleitoral fosse incuestionável. É um triunfo obtido com enorme energia e firmeza, e o fizemos em paz. Obtivemos 67% dos votos, enquanto Nicolás Maduro conseguiu 30%. Essa é a expressão da vontade popular. Vencemos em todos os estados do país e na quase totalidade dos municípios. Todos os cidadãos, incluindo os membros do Plano República, são testemunhas dessa realidade. No entanto, Maduro se recusa a reconhecer que foi derrotado pelo país inteiro e, diante da legítima protesto, lançou uma brutal ofensiva contra dirigentes democráticos, testemunhas, membros de mesa e até contra o cidadão comum, com o absurdo propósito de querer ocultar a verdade e, ao mesmo tempo, tentar encurralar os vencedores. Fazemos um apelo à consciência dos militares e policiais para que fiquem ao lado do povo e de suas próprias famílias. Com essa maciça violação dos direitos humanos, a alta cúpula se alinha com Maduro e seus interesses vis. Enquanto vocês estão representados por aquele povo que saiu para votar, por seus companheiros das Forças Armadas Nacionais, por seus familiares e amigos, cuja vontade ficou expressa no dia 28 de julho e vocês conhecem. Estamos cientes de que em todos os componentes das Forças Armadas Nacionais está presente a decisão de não reprimir os cidadãos que de forma pacífica reivindicam seus direitos e sua vitória. Os venezuelanos não somos inimigos das Forças Armadas Nacionais. Com essa disposição, chamamos vocês a impedir as ações de grupos organizados pela cúpula madurista, uma combinação de esquadrões militares e policiais e grupos armados fora do Estado, que agem, torturam e também assassinam, sob a proteção do poder maligno que representam. Vocês podem e devem parar essas ações imediatamente. Exortamos vocês a impedir a fúria do regime contra o povo e a respeitar, e fazer respeitar, os resultados das eleições de 28 de julho. Maduro deu um golpe de Estado que contraria toda a ordem constitucional e quer fazer de vocês seus cúmplices. Vocês sabem que temos as provas irrefutáveis da vitória. O relatório do Centro Carter é devastador sobre as condições e o resultado eleitoral, enquanto Maduro tenta fabricar resultados quando, além disso, o prazo legal para a publicação deles já venceu. Membros das Forças Armadas Nacionais e dos corpos policiais, atendam aos seus deveres institucionais, não reprimam o povo, acompanhem-no. Igualmente, pedimos a todos os venezuelanos que têm mães, pais, filhos, irmãos, parceiros que são membros das Forças Armadas Nacionais ou funcionários policiais, que exijam que eles não reprimam, que desobedeçam ordens ilegais e que reconheçam a Soberania Popular, expressa nos votos do domingo, 28 de julho. O novo governo da República, eleito democraticamente pelo povo venezuelano, oferece garantias àqueles que cumprirem com seu dever constitucional. Destaca também que não haverá impunidade. Este é um compromisso que assumimos com cada um dos venezuelanos. Nós ganhamos esta eleição sem qualquer discussão. Foi uma avalanche eleitoral, cheia de energia e com uma organização cidadã admirável, pacífica, democrática e com resultados irreversíveis. Agora nos cabe a todos fazer respeitar a voz do povo. A proclamação de Edmundo González Urrutía como presidente eleito da República deve ser feita imediatamente.”

“O Ministério Público da República Bolivariana da Venezuela informa ao país que, como consequência da divulgação de um Comunicado por parte do ex-candidato Edmundo González e da cidadã María Corina Machado, onde à margem da Constituição e da Lei, falsamente anunciam um vencedor das eleições presidenciais distinto do proclamado pelo Conselho Nacional Eleitoral, único órgão qualificado para fazê-lo, e no qual se faz uma aberta incitação a funcionários policiais e militares à desobediência das leis; decidiu abrir uma investigação penal contra ambos os signatários do irrito documento. No citado pronunciamento, evidencia-se a presumida comissão dos delitos de Usurpação de Funções, Divulgação de Informação Falsa para Causar Inquietação, Incitação à Desobediência das Leis, Incitação à Insurreição, Associação para Delinquir e Conspiração. O Ministério Público, como titular da ação penal, em seu dever de ser garantidor da paz e da estabilidade no país, se manterá vigilante ante qualquer ato que implique a geração de violência ou inquietação na população e que pretenda a reedição de eventos que deixaram dolorosas feridas em toda a família venezuelana.” -texto do documento oficial do Ministério Público venezuelano

Postagem com documento oficial que foi tornado público há pouco pelo regime venezuelano

Conhecido chavista, o procurador-geral que divulgou este documento e anunciou a investigação está no cargo há 7 anos, desde que foi escolhido pelo ditador Nicolás Maduro, por meio de sua Assembleia Nacional, para substituir a então procuradora Luisa Ortega Díaz, que na época começou a criticar os movimentos repressivos do regime.

Antes de ser nomeado procurador do regime de Maduro, Tarek William atuou por alguns anos como “Defensor do Povo”, uma instituição oficial comparável à Advocacia-Geral da União. No antigo cargo, Tarek defendia com lealdade todas as ações repressivas do chavismo, as quais eram condenadas por diversos organismos internacionais, incluindo a ONU.

Tarek também já foi deputado ligado ao regime, presidente de comissões no Parlamento venezuelano e Governador de Anzoátegui por oito anos, entre 2004 e 2012, período no qual seu governo foi acusado de “extrema corrupção”.

O anúncio de investigação não é uma surpresa e segue várias ameaças feitas pelo procurador desde o dia da eleição.

É Tarek quem anuncia publicamente a quantidade de manifestantes venezuelanos presos, que, segundo Maduro, serão enviados para presídios de segurança máxima.


(Matéria em atualização)

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