BRASÍLIA, 30 de outubro — O ministro Luiz Marinho, chefe da pasta do Trabalho do Governo Federal, ao defender que o Brasil deveria buscar controlar a inflação sem elevar os juros, sugeriu nesta quarta-feira (30), durante a divulgação do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) de setembro, que a oferta e demanda poderiam regular os preços no mercado e que os brasileiros poderiam alterar seus hábitos, substituindo o consumo de alimentos mais caros.
A fala surgiu em uma crítica que o ministro fazia ao Banco Central, dizendo que a instituição “escuta o sistema financeiro, somente”.
“Deveria ser estudado melhor como reduzir os juros controlando a inflação. Eu já falei aqui: Quando você tem determinado seguimento com preços acelerando, como que você desacelera esse processo? É aumentando a oferta. Porque a regra da oferta e da procura também regula preço. Então eu acho que isso é um processo para a sociedade, inclusive, refletir. E muitas vezes a própria imprensa às vezes fala: ‘Olha, tal coisa está cara, substitui por outra’. Né? Alface está cara? Substitua por chicória. Para citar um exemplo, né?” -Luiz Marinho
No fim de agosto, o ministro já havia defendido que o “Banco Central precisa aprender a combater a inflação” sem elevar os juros, sugerindo que o governo apenas precisaria estimular uma maior produção, como teria sido feito, segundo ele, nos governos Lula 1 e 2. “Nós vimos nos governos Lula 1 e 2 que controlamos a inflação com mais produção”, afirmou.
Ao responder a perguntas de jornalistas, o ministro também aproveitou para negar ter ouvido qualquer discussão sobre mudanças (cortes) no abono salarial e no seguro-desemprego, que são pontos sendo analisados pelo governo na agenda de redução de gastos que deverá ser apresentada em breve por meio de Proposta de Emenda à Constituição (PEC).
Embora a área técnica esteja de fato realizando estudos sobre esses dois temas e a ideia esteja sendo abertamente discutida por Secretários do governo, Marinho afirmou que essas medidas “não existem”.
“Se nunca discutiu comigo, essas medidas não existem. Se eu sou responsável pelo tema trabalho e emprego, esse debate não existe, a não ser que o governo me demita […] Uma decisão sem minha participação, em um tema meu, é uma agressão. E não me consta que nenhum ministro de Estado tenha discutido esse assunto” -Luiz Marinho
Questionado se ele realmente pediria demissão devido a um corte de gastos que afetasse sua pasta, Marinho afirmou que “se eu for agredido, é possível. Nunca fui”; “Todo cargo de ministro é do presidente. Se ele achar que o ministro não está servindo, ele pede para sair”.
A demora na apresentação concreta da chamada ‘agenda de redução de gastos’ e as recentes declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, têm causado sérios prejuízos ao governo, que se vê pressionado por um mercado inquieto, que novamente percebe grandes riscos de descontrole nas contas do país.
Sem um grande corte de gastos, o Mercado está precificando um fim forçado do arcabouço fiscal (regras de controle de contas públicas) nos próximos anos, o que elevaria a dívida pública brasileira, aumentaria a inflação e, consequentemente, a taxa de juros.
No encerramento da sessão de hoje, o Dólar registrou alta de 0,04%, fechando o dia cotado a R$ 5,7634, seu maior nível desde 29 de março de 2021 (chegou a bater R$ 5,79 durante o dia). Apenas ontem, a cotação do dólar, que já acumulou uma alta de 5,81% neste mês e de 18,77% no ano, subiu 0,92%.
(Matéria em atualização)