TROMSØ, 28 de outubro — Um homem que portava documentos brasileiros (ainda não temos imagens dos documentos) com o nome de “José Assis Giammaria” e que foi preso no último dia 24/10 na Noruega após uma suspeita de ele ser um “agente ilegal”, foi confirmado hoje pelo órgão de Inteligência norueguês PST como um espião russo.
“José Assis Giammaria” se passava por cientista em uma universidade envolvida em pesquisas do governo norueguês contra “ameaças híbridas à Noruega Ártica”; ele também passou anos em outra universidade no Canadá estudando o mesmo assunto.
No momento de sua prisão, a Inteligência norueguesa achou que o homem seria apenas um “agente ilegal”, que nada mais é que um agente de inteligência sem ligações oficiais com um governo (histórico limpo) que assume uma personalidade secreta, geralmente em profissões ligadas a um governo-alvo, e que na maioria das vezes utiliza uma identidade real de uma pessoa morta ou sabidamente desaparecida. Eles são comuns em grandes bancos, ONGS e universidades.
IDENTIDADE REAL: “José Assis Giammaria” na verdade se chama Mikhail Valerievich Mikushin, nascido em 19 de agosto de 1978 (documento brasileiro dizia que ele nasceu em 1984), é um oficial (ao menos um coronel) da GRU/Glavnoye Razvedyvatelnoye Upravlenie (inteligência militar russa/soviética).
Mikhail utilizava basicamente 3 contas de e-mail na Universidade, e-mails estes que eram acessados por mais pessoas, e dois deles eram e-mails russos.
Um dos e-mails usava o nome da série brasileira “A Grande Família”: “agrandefamilia @ mail.ru”.
O outro e-mail russo continha um trecho de seu nome real: “mika-invasor @ rambler. ru”.
O e-mail russo “mika-invasor @ rambler. ru” era um endereço antigo e pessoal, utilizado em vários sites de compras, redes sociais, assinaturas de jornais, etc.
Mikhail Valerievich Mikushin nasceu em Yekaterinburg, Rússia, viveu na rua Yekaterinburg (vários cadastros relacionados), se formou na escola em 1994 e se mudou para Moscow (capital russa) aos 26 anos, onde morava em um dormitório de oficiais na Academia Diplomática Militar (VDA) da GRU (inteligência militar russa/soviética), onde são levados oficiais treinados na 1ª faculdade da VDA (treina oficiais da GRU para trabalhar no exterior).
Ele se formou na faculdade em 2006 e conseguiu obter um passaporte brasileiro alegando ter uma mãe brasileira (o que não é verdade).
Ele também solicitou um CPF brasileiro.
Em 2010, já como um espião formado, Mikhail criou uma página na rede social local VK com o seu nome real, onde se descreveu como “ultraconservador”.
Seu irmão, Ivan Mikushin, por outro lado, é um apoiador do opositor do presidente Vladimir Putin, Alexei Navalny (já fez doações e participou de todos os protestos).
Em 2011, já tendo estudado português o suficiente, foi cursar “Estudos Militares de Segurança e Estratégicos” com ênfase no Ártico Canadiano na Universidade de Calgary, Canadá, onde não levantou suspeitas, já que os sotaques russo e brasileiro são similares aos ouvidos de estrangeiros.
Mikhail retornou para o seu país algumas vezes durante o período em que ficou no Canadá e na Noruega. Em uma das vezes, em 2015, ele aproveitou para renovar sua habilitação, e ao retornar ao Canadá, logo participou da campanha política do partido New Democratic Party, um partido da esquerda política canadense.
Em 2019, Mikushin publicou um artigo justificando a necessidade de novas bases militares no Ártico (tipo de pesquisa que ele fazia no Canadá/parte do disfarce).
Em dezembro de 2021, viajou à Noruega para participar de um programa de pesquisas na Universidade de Tromsø, e foi aceito pela coordenadora do curso, especialista em Segurança, por indicação de um professor canadense.
Uma das pesquisas que contou com a participação de Mikhail foi um estudo sobre “ameaças híbridas”; Mikhail também participou de um programa com apoio da União Europeia sobre “guerra híbrida” em Vilnius, capital da Lituânia.
Um dos assuntos abordados no programa foi o tema “como reagir em caso de sabotagem no gasoduto Nord Stream” que foi atacado no último dia 26 de setembro.
O caminho comum para um caso como esse, é a deportação, que pode não ocorrer se a Rússia não reconhecer a cidadania de seu espião.
A embaixada russa já negou sua relação com o espião*
O mesmo aconteceu com Sergey Vladimirovich Cherkasov, um espião da Rússia que também usava documentos brasileiros (“Viktor -Victor em redes sociais- Muller Ferreira, de Niterói) e que foi preso em abril, na Holanda, enquanto tentava acessar o Tribunal Penal de Haia como estagiário.
Sergey, como de costume, não foi reconhecido pela Rússia e foi deportado para o Brasil, sendo condenado aqui a 15 anos de prisão pela 5ª Vara Federal de Guarulhos (São Paulo).
Seus documentos falsos foram confeccionados durante uma viagem ao Brasil, quando ele ainda utilizava seus documentos originais, em 2010; ele saiu do Brasil em 2012 já utilizando o nome de Viktor-Victor Ferreira.
Mikhail Valerievich Mikushin chegou a retornar para a Rússia (esse tipo de comportamento não é comum) em junho de 2020, em uma “viagem”, e lá comprou um patinete elétrico, deixando registrada uma avaliação positiva do produto utilizando um de seus e-mails.
Ambos, Noruega, Lituânia e Canadá, são membros da OTAN.
(em atualização)