BRASÍLIA, 6 de abril — Durante café da manhã com jornalistas hoje no Palácio do Planalto, o mandatário brasileiro voltou falar sobre a guerra na Ucrânia; segundo o presidente brasileiro, seguindo o provável plano discutido com a China, Putin deveria remover suas tropas de todo o território ocupado desde fevereiro de 2022.
“O que Putin quer? Ele não pode ficar com o ‘terreno’ da Ucrânia. Talvez nem se discuta a Crimeia (região ucraniana ocupada pela Rússia na invasão de 2014), mas, o que ele invadiu de novidade, vai ter que repensar. O Zelensky (presidente ucraniano) não pode querer também tudo o que ele pensa que vai querer. Tudo isso é assunto que tem que ser colocado na mesa […] O Brasil defende a integridade territorial de cada nação. Nós não concordamos com a invasão da Rússia na Ucrânia. Agora, nós achamos que o mundo desenvolvido, sobretudo a União Europeia e os Estados Unidos, não poderia ter aceitado entrar na guerra da forma como entraram, com rapidez, sem antes gastar muito tempo tentando negociar. E negociar a paz é muito complicado […] A guerra começou e alguém tem que parar. Os dois não vão tomar a iniciativa de parar. Alguém de fora tem que ajudar. Estou convencido que tanto a Ucrânia quanto a Rússia, estamos esperando alguém de fora. A paz é mais complicada do que a guerra. Guerra é um desejo insano, mas a guerra tem que ser construída […] A China tem peso, o Brasil tem peso, acho que a Indonésia pode participar, a Índia… Vamos lá conversar com o Putin, conversar com o Zelensky, com o Biden. Vamos tentar ver se encontramos um grupo de pessoas que não se conforme com a guerra. Não é necessário ter guerra […] Uma coisa de sucesso em negociação é você ter que perguntar para o negociador. Você vai negociar para construir ou vai negociar para destruir? Porque se o cara for negociar com a visão de não querer fazer acordo, não vá. Não compensa negociar.” –presidente Lula
O discurso mostra uma drástica mudança no tom do governo Lula com relação a guerra, com o mandatário já tendo falado que o presidente ucraniano era “tão culpado quanto” Vladimir Putin, que Zelensky era “um pouco esquisito, porque parece que ele faz parte de um espetáculo” e que a guerra poderia ser resolvida no Brasil, “em uma mesa de bar”, já que, segundo o presidente brasileiro, “quando um não quer, dois não brigam”.
No fim de fevereiro deste ano, o Brasil foi um dos 141 países que votou a favor, na Assembleia Geral da ONU (sem efeito prático), da condenação da invasão russa na Ucrânia (placar final de 141 votos a favor e 7 contra); votaram contra a condenação: Rússia, Bielorrússia, Coreia do Norte, Síria, Nicarágua, Eritrea e Mali.
Na semana passada, o assessor especial internacional da Presidência da República, embaixador Celso Amorim (foi quem negociou com o próprio Nicolás Maduro o retorno de relações com o Brasil), viajou para a capital russa Moscow em um voo discreto em um jato da Força Aérea (FAB2582/Embraer ERJ-135 BRS018) para se encontrar com Vladimir Putin “para debater a guerra na Ucrânia” e falar sobre “acordos de paz”.
De acordo com a comitiva oficial, a conversa teria durado cerca de uma hora, teve um tom cordial, mas terminou sem indicativos de que um acordo de paz possa ocorrer em breve.
O governo russo ainda não comentou sobre a fala do presidente brasileiro.
(em atualização)