Presidente russo Vladimir Putin faz pronunciamento e convoca uma “mobilização nacional parcial”; 300.000 reservistas serão convocados para lutar na Ucrânia

Presidente russo Vladimir Putin | Imagem de divulgação oficial do governo russo

Moscow, 21 de setembro — O presidente russo Vladimir Putin acabou de declarar oficialmente, em discurso televisionado, o primeiro desde a invasão que aconteceu em fevereiro, que está convocando uma “mobilização nacional parcial” para enfrentar a guerra na Ucrânia; Segundo ele, a convocação atingirá “apenas os cidadãos que se encontram atualmente na reserva (o serviço militar na Rússia é obrigatório) e, sobretudo, aqueles que serviram nas Forças Armadas, ou que possuam determinadas especialidades militares e experiência relevante”.

A “mobilização nacional parcial” entrará em vigor ainda hoje e os convocados já estarão sob as novas regras que punem com prisão de até 10 anos quem se recusar a lutar pelo país “em caso de declaração de mobilização”.

O ministro da Defesa russo Sergei Shoigu também fez um pronunciamento logo após a fala do presidente, e disse que a guerra “não está mais acontecendo com a Ucrânia, mas sim com o coletivo do Ocidente”; “toda a rede de satélites da OTAN está trabalhando contra a Rússia”.

Segundo o ministro, serão convocados 300.000 reservistas para lutar na Ucrânia (ele não disse qual será o critério -além da experiência militar- e como serão equipados estes soldados, já que isso se tornou um grande problema nas linhas de frente. A logística para fazer isso acontecer é bem maior do que tudo o que foi feito até o momento. Boa parte dos equipamentos está guardada em armazéns há muitos anos*).

A última grande leva de reservistas –os mais novos que lutaram na Síria e no leste ucraniano– foi desmobilizada em 2010~2015.

Para justificar os 300 mil convocados como um número normal (socialmente aceitável), o ministro disse que a Rússia possui “25 milhões” de reservistas com experiência militar, o que não é a realidade.

O pais provavelmente usará critérios próprios para escolher os convocados.

Se levarmos em conta os números citados pelo ministro, ele está contando com reservistas (com e sem experiência) com idades superiores aos 60 anos.

Hoje, pela lei russa, os soldados convocados não podem ir lutar fora do território da Rússia, e é provavelmente por isso que o país agilizou os referendos de anexação de partes da Ucrânia que acontecerão entre os dias 23 e 27 de setembro nas regiões (parcialmente) ocupadas de Kherson, Luhansk, Donetsk e Zaporizhzhia.

A convocação de tropas na reserva –somada com as leis que agora prendem pessoas que se recusam a ir para a guerra– esbarra necessariamente na utilização de soldados que não gostariam de lutar (se juntariam aos 20~40% das tropas ativas que também não gostariam de participar do conflito). Isso tende a ser uma solução relativamente eficiente para o curto prazo, mas cria problemas políticos e sociais relevantes.

Até o momento, este é definitivamente o passo político mais significante e arriscado do presidente russo Vladimir Putin.

Pontos relevantes do pronunciamento do presidente russo Vladimir Putin:

  • Ele disse que apoiará os referendos que serão realizados nas regiões parcialmente ocupadas de Kherson, Luhansk, Donetsk e Zaporizhzhia, na Ucrânia, e prometeu “garantir a segurança” dos processos
  • Ele disse que a região de Luhansk “está quase liberada” (região vem sendo reconquistada nos últimos dias pelo lado ucraniano*)
  • Ele disse que facilitou o processo para estrangeiros lutarem pelo lado russo de forma oficial
  • Ele disse que Bruxelas, Londres e Washington estão empurrando a luta “para dentro da Rússia”
  • Ele chamou as negociações para a desocupação de Zaporizhzhia de “chantagem nuclear” (Zaporizhzhia abriga a maior usina nuclear da Europa / 9ª maior do mundo);
  • Ele disse que o Ocidente está falando em utilizar armas de destruição em massa contra a Rússia (publicamente isso nunca foi dito);
  • “Todos os meios serão utilizados em caso de ameaça à integridade territorial da Rússia, isso não é um blefe”
  • “300.000 reservistas serão convidados” –Ministro da Defesa Sergei Shoigu (discursou logo após o presidente russo)

Na tarde de ontem, vários grupos russos famosos publicaram uma mesma mensagem dizendo que a partir de hoje a Rússia proibiria homens em idade militar de deixar o país (nada foi confirmado com relação a isso).

O serviço de fronteira russo já teria sido comunicado para barrar a passagem de reservistas e pessoas com “experiência militar comprovada”.


Texto publicado aqui no dia 09/05 sobre a chamada “mobilização nacional”:
“É esperado que o presidente russo Vladimir Putin, em algum momento próximo, faça uma convocação geral no país (localmente chamada de ‘mobilização’).
Relevante: A Rússia não tem uma reserva bem treinada e seus recrutas servem as Forças Armadas por um ano.
Assim que eles terminam o treino (boa parte sequer aprende alguma coisa e no máximo participa de palestras e escreve algum conteúdo básico sobre aeronaves), são imediatamente desmobilizados.
Não está claro o quão útil essa Força extra seria no combate atual, principalmente sem os sub-oficiais bem treinados que estão na Ucrânia.
Os recrutas geralmente são treinados em suas unidades, mas a grande maioria dos regimentos/brigadas de terra está parcialmente dentro da Ucrânia.
Além disso, uma mobilização de forma oficial aumenta -e muito- as apostas pessoais do presidente russo Vladimir Putin.
Não vencer o colocaria em uma posição de risco (tudo depende de quais sãos os objetivos dele).
Ocupar mais regiões da Ucrânia não é uma solução sustentável a longo prazo enquanto a Ucrânia continuar lutando e recebendo armas. A Rússia teria que tornar essa guerra insustentável para Kyiv, e isso também depende do nível de participação da OTAN/UE/EUA.
O último decreto do presidente Vladimir Putin sequer conseguiu reunir o número suficiente de reservistas.
É impossível prever o risco político de um número alto de reservistas destreinados mortos em combate.
Lembrando que a Rússia já iniciou a guerra em fevereiro com ~70% de seus batalhões de combate terrestre/BTGs (hoje está em ~80%)+Rosgvardia (Guarda Nacional)+batalhões da Chechênia (em março)*
Apenas como referência, em 2003, os Estados Unidos utilizaram ~37% da sua Força tática terrestre no Iraque e ainda conseguiram fazer uma rotação de soldados/batalhões*”


(em atualização)

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