BRASÍLIA, 30 de maio — O presidente uruguaio fez nesta tarde duras críticas ao regime venezuelano, durante live do próprio presidente que estava em uma reunião com líderes da América do Sul, e criticou a fala de ontem do presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva sobre o autoritarismo e a “antidemocracia” do regime venezuelano ser uma “narrativa”; os próprios aliados do governo enxergam aproximação do Brasil com o regime venezuelano como um erro político e que o movimento passou do ponto da diplomacia e virou uma promoção do ditador Nicolás Maduro.
O encontro foi proposto pelo presidente Lula com a intenção de reviver a Unasul, bloco (político) sul-americano criado em 2004 como “Comunidade Sul-Americana de Nações” e transformado em Unasul em 2008 por Hugo Chávez (bloco que deixou de ter relevância após perder os membros Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai e Paraguai por conta de divergências ideológicas).
Argentina e Brasil retornaram ao bloco nos dias 6 e 9 de abril deste ano, respectivamente.
Há pouco, o presidente socialista chileno Gabriel Boric, crítico do regime venezuelano, também disse ao vivo que viu pessoalmente a situação na Venezuela, os desrespeitos aos direitos humanos que são registrados no país, e falou que o tema não deveria ser chamado de “narrativa”.
No encontro, o presidente Lula também falou na necessidade da criação de uma moeda comum na América do Sul para substituir o dólar nas transações internacionais e na utilização do BNDES para a construção de uma “poupança regional dos países da América do Sul”.
Além do ditador venezuelano Nicolás Maduro, participam do encontro os presidentes da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Suriname, Uruguai.
Seguindo a agenda, os líderes deverão se reunir mais tarde em um jantar.
“Fiquei surpreso quando se disse que o que se passou na Venezuela é uma narrativa […] Já sabem o que pensamos a respeito da Venezuela e ao governo da Venezuela. Agora, se há tantos grupos no mundo que estão tratando de mediar para que a democracia seja plena na Venezuela, para que se respeitem os direitos humanos, para que não hajam presos políticos, o pior que se pode fazer é tapar o sol com um dedo […] Chamemos as coisas pelo nome que têm e ajudemos […] Até pouco tempo Uruguai não tinha embaixador na Venezuela e nós nomeamos um. Como temos em Cuba e tantos lugares, porque nossa afinidade é com o povo venezuelano […] Chega de instituições, basta de instituições. Vamos ao tema da Unasul, vamos colocar o nome das coisas. Quando assumimos o governo, nos tiramos da Unasul. Em seguida chegou o convite para ingressar no Prosul, dissemos não. Porque se não terminamos sendo clubes ideológicos […] Acho que temos que parar essa tendência à criação de organizações. O presidente Boric (Chile) entre outros, levantou pontos pontuais, como no caso de catástrofes e outras coisas. O mesmo fez o presidente Lasso. Me parece oportuno, presidente Lula, ir às ações, revisar as ações. Tomar o caminho que começamos em tantas coisas e voltar atrás nos caminhos que foram equivocado […] Não nos cabe eleger o governo, mas sim, temos a possibilidade de opinar. E vou dizer porque tenho a possibilidade de opinar: porque o ponto dois da declaração que se está sendo negociada, fala de democracia, fala de direitos humanos e fala de proteger as instituições. Se não existisse eu não teria porque opinar sobre esse tema. Mas vamos subscrever, ou temos a intenção que cheguemos a um acordo para subscrever” –presidente uruguaio Lacalle Pou
Este está sendo o tema mais comentado na mídia uruguaia, que retrata o comentário como uma crítica direta ao presidente brasileiro e anfitrião Lula, e uma indicação que Lula talvez não tenha apoio suficiente para reviver o bloco.
Contexto: Ontem, o presidente Lula, ao lado do ditador venezuelano Nicolás Maduro, comparou as críticas quanto ao autoritarismo e a “antidemocracia” da Venezuela à “narrativas”; a aproximação com elogios não era esperada, já que interlocutores do governo indicavam que o presidente brasileiro seria pragmático no trato com o visitante que é chamado de ditador até pela ONU.
No fim do trecho polêmico, o presidente brasileiro ainda disse que “nossos adversários (adversários comuns entre o atual governo brasileiro e a Venezuela) ainda vão ter que pedir desculpa” pelas “narrativas” criadas sobre o regime venezuelano.
O ditador venezuelano chegou na noite de domingo em Brasília e está participando de uma reunião com líderes dos 12 países da América do Sul (proposta pelo presidente Lula).
Um dos pontos que será abordado pelo grupo de líderes (que inclui o ditador Maduro) será o Meio Ambiente, que hoje é parte de uma dura crise que pode acabar com uma possível demissão da ministra da pasta, Marina Silva.
Enquanto o governo discute internamente sobre a exploração de petróleo de bacia do Rio Amazonas, movimento que é duramente criticado pela ministra do Meio Ambiente porém apoiado pelo governo, a Venezuela não poderá assinar acordos referentes ao tema porque a exploração venezuelana na Amazônia, principalmente na questão dos minérios, é realizada pelos militares venezuelanos.
O regime venezuelano entregou as áreas de exploração aos Generais do país para consolidar uma base de apoio ao Maduro, e essa questão não é realisticamente passível de alteração. Inúmeros indígenas venezuelanos foram expulsos dessas regiões e hoje estão em solo brasileiro, sem qualquer expectativa de retorno.
Parte dos lucros dessa exploração também financia a milícia russa Grupo Wagner, grupo paramilitar que está espalhado por todos os continentes e que responde unicamente a Vladimir Putin, que protege o regime venezuelano desde o último levante de 2019.
(Clique aqui para ler mais sobre a presença russa na Venezuela)
Nicolás Maduro está na lista de recompensas por ‘informações sobre o seu paradeiro’ do Departamento de Estado dos EUA.
O órgão americano oferece US$ 15 milhões por informações que levem à captura de Maduro pelos crimes de narcoterrorismo e tráfico internacional de drogas.
(Em atualização)