ROMA, 4 de setembro — A conservadora Giorgia Meloni, que lidera o partido “Irmãos da Itália” e que deve liderar o novo governo italiano, falou publicamente neste domingo sobre o risco representado para as nações ocidentais com invasão da Ucrânia pela Rússia, chamando-a de “ponta do iceberg em uma luta por influência”; ela nunca havia se posicionado, porém já fez vários comentários breves pró-ocidente/Ucrânia e favorável ao envio de armas.
Meloni lidera o maior partido em uma aliança (coalizão) de centro-direita com o Partido “Liga”, de Matteo Salvini, que antes liderava a direita italiana e que perdeu o apoio após virar base de sustenção do último governo liderado pelo burocrata Mario Draghi (ele foi muito criticado pela questão das restrições sanitárias), e o “Forza Italia”, de Silvio Berlusconi, que juntos estão a caminho de uma grande vitória nas eleições italianas que acontecerão em 25 de setembro.
Hoje, durante uma famosa conferência organizada por uma empresa de consultoria (“Ambrosetti Forum”), em Cernobbio, Itália, a próxima primeira-ministra italiana se posicionou pela primeira vez sobre a guerra na Ucrânia, deixando claro que a Itália continuará apoiando o lado ocidental.
Ela será a primeira mulher a ocupar o cargo.
“Se a Ucrânia cair e o Ocidente perecer, o grande vencedor não será a Rússia de Putin, mas a China de Xi Jinping, e aqueles que são mais fracos no Ocidente, principalmente na Europa, correm o risco de se ver sob influência chinesa. Então temos que lutar esta batalha […] A guerra na Ucrânia é a ponta do iceberg de um conflito que irá reformular a ordem mundial” –Giorgia Meloni, próxima primeira-ministra italiana
Os outros dois partidos que estão nessa coalizão, a “Liga” e o “Forza Italia”, sempre tiveram ligações fortes com a Rússia (provavelmente veremos conflitos nessa questão).
A dependência europeia do mercado energético russo foi criada com muitos anos de influência russa com políticos de todos os espectros (desde Merkel até o próprio Salvini).
O ex-chanceler alemão Gerhard Schröder até hoje senta em uma mesa diretora de uma empresa estatal russa de gás e petróleo “Rosfnet” (recebe quase 1 milhão de dólares americanos por ano / ele disse que sairia do posto em maio deste ano, mas nada foi formalizado).
Matteo Salvini, líder do partido “Liga” que também será parte da coalizão que comandará o governo italiano, e que sempre fez campanha contra sanções que miravam a Rússia (nas outras invasões), também comentou o assunto no mesmo fórum, e mostrou que aparentemente seguirá o caminho de usar o discurso de proteger o trabalhador -discurso que ele esqueceu durante as restrições sanitárias- para conter sanções.
“Vamos continuar punindo o agressor, mas vamos proteger nossos negócios e nossos trabalhadores, porque ganhar a eleição e herdar um país de joelhos não seria muito satisfatório” –Matteo Salvini durante o discurso de hoje no Ambrosetti Forum
Assim que a guerra na Ucrânia começou, em 24 de fevereiro, ele apagou (ou restringiu) de seu Facebook pessoal todas as fotos em que fazia homenagens ao presidente russo Vladimir Putin.
Não são esperadas mudanças na postura italiana, apesar da composição da coalizão que irá liderar o país após as eleições de 25 de setembro.
O mesmo caminho deverá ser adotado pelo Reino Unido com a próxima primeira-ministra britânica, que provavelmente será a atual ministra das Relações Exteriores do país, Liz Truss (anúncio acontecerá nesta semana), que além de sempre tentar imitar (fisicamente) a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, adota uma postura até mais dura que a do primeiro-ministro interino Boris Johnson.
(em atualização)