CARACAS, 5 de outubro — O procurador-geral de ação penal do Ministério Público do regime venezuelano, Tarek William Saab, anunciou há pouco, em uma coletiva de imprensa transmitida pela TV estatal local, um mandado de prisão contra o ex-líder da oposição venezuelana Juan Guaidó pelos crimes de “traição à pátria, usurpação de funções, lucro de dinheiro ou de bens públicos e lavagem de dinheiro.”
De acordo com o regime venezuelano, que anunciou que solicitaria a inclusão do nome de Guaidó na lista vermelha da Interpol, o político seria “o chefe” de uma organização que “causou perdas à nação de US$ 19 bilhões” ao “utilizar recursos” da petroleira estatal PDVSA “para se financiar e pagar as suas despesas legais forçando a PDVSA a aceitar os seus termos de refinanciamento” que segundo ele seriam os responsáveis pelo prejuízo reportado pela empresa.
Segundo o próprio procurador-geral, o regime já prendeu 129 pessoas ligadas à Guaidó e possui 34 investigações contra o ex-líder da oposição, que não é ligado aos líderes atuais e que era criticado até pela atual e principal opositora María Corina Machado.
Em suas redes sociais, Guaidó disse que as acusações são mentirosas e que o prejuízo da petroleira partiu da “emissão ilegal de títulos, desapropriações e hipotecas ao país” que geraram “ações judiciais e prejuízos à nação, sem falar de El Aissami, Chávez, enfermeira, odebrecht, etc.” (escândalos públicos relacionados à empresa e ao ditador anterior).
Guaidó, que já foi reconhecido como “presidente encarregado venezuelano” por vários países de 2019 à 2022 (incluindo o Brasil), está em Miami desde abril após ter sido expulso da Colômbia ao cruzar a fronteira andando (ilegalmente, segundo o governo atual) por medo de ser preso.
No próximo dia 22 de outubro a oposição escolherá o candidato que tentará disputar uma eleição contra o ditador Nicolás Maduro em 2024.
Liderando as pesquisas da oposição estão María Corina Machado e Henrique Capriles, ambos proibidos pelo regime venezuelano de participar das próximas eleições.
María Corina Machado foi “inabilitada” em 30 de junho deste ano para assumir cargos públicos no país por 15 anos a partir de uma decisão da Controladoria-Geral da República. A decisão do órgão foi divulgada pelo deputado aliado do regime José Brito, que também foi o autor do pedido de inabilitação.
Em fevereiro de 2014, Corina foi uma das maiores líderes das manifestações contrárias ao regime venezuelano.
Seu mandato na Assembleia Nacional venezuelana, que na época era comandada por Diosdado Cabello, um dos maiores narcotraficantes da América do Sul, hoje um dos ‘braços direitos’ de Maduro e líder da milícia armada do regime, os “Colectivos”, foi cassado cerca de um mês depois.
Em 2015, com o argumento de que Corina não havia declarado patrimônios que havia recebido (o que foi negado por ela), a Controladoria-Geral venezuelana condenou a opositora a não exercer cargos públicos por 12 meses e a proibiu de deixar o país.
Em teoria, Corina já estava liberada para concorrer às eleições venezuelanas, porém a Corregedoria-Geral local decidiu em junho deste ano, após um pedido de revisão de um deputado aliado do regime, que por ela ter apoiado as sanções dos Estados Unidos contra o ditador Maduro, a punição teria recebido uma “extensão” de 15 anos, contando a partir de agora.
Corina, uma “católica ferrenha”, é conhecida localmente como “dama de ferro” e sempre representou a ala mais contrária aos chavistas, rejeitando qualquer tipo de acordo e sendo opositora e crítica até do governo paralelo de Juan Guaidó.
O ex-governador Henrique Capriles, outro opositor que teve sua candidatura barrada em junho e que figura na segunda posição nas pesquisas, já disputou eleições contra o falecido Hugo Chávez, em 2012, e contra Maduro, um ano depois. Apesar de registrar sua candidatura, ele está “inabilitado” de exercer cargos públicos desde 2017, em uma sentença que também é válida por 15 anos “por incorrer em casos ilícitos tipificados, como não apresentação do orçamento local à Assembleia Legislativa do Estado, celebração de convênios internacionais sem autorização para tal e celebração de contratos da Prefeitura de Miranda com empresas em desacordo com as normas” (imputação de crime comum entre os opositores barrados).
As últimas pesquisas gerais no país indicam que ao menos 8 em cada 10 venezuelanos querem uma mudança política no país.
Não é esperado que o regime venezuelano aceite a candidatura de Maria Corina, que lota todos os seus eventos políticos e nas pesquisas aparece isolada com o triplo das intenções de voto do segundo colocado.
Diosdado Cabello, braço direito de Maduro, diz frequentemente que o regime não aceitará a candidatura das pessoas que foram impugnadas pela justiça chavista. Segundo Cabello, Corina estaria “enganando” seus apoiadores ao dizer que competirá nesta próxima eleição.
(Em atualização)