Regime venezuelano torna principal líder da oposição inelegível por 15 anos e enterra chance de eleições livres no país; vários outros opositores também foram barrados

María Corina Machado | Imagem por Carlos Díaz (CC)

CARACAS, 01 de julho — A líder nas pesquisas (aparece em todas com mais de 50%) entre os 14 opositores que registraram suas candidaturas na Venezuela no último sábado (14), María Corina Machado, foi “inabilitada” na tarde de ontem para assumir cargos públicos no país por 15 anos; a decisão, que partiu da Controladoria-Geral da República, foi divulgada pelo deputado aliado do regime José Brito, que também foi o autor do pedido.

Em fevereiro de 2014, Corina foi uma das maiores líderes das manifestações contrárias ao regime venezuelano.

Seu mandato na Assembleia Nacional venezuelana, que na época era comandada por Diosdado Cabello, um dos maiores narcotraficantes da América do Sul, hoje um dos ‘braços direitos’ de Maduro e líder da milícia armada do regime, os “Colectivos”, foi cassado cerca de um mês depois.

Em 2015, com o argumento de que Corina não havia declarado patrimônios que havia recebido (o que foi negado por ela), a Controladoria-Geral venezuelana condenou a opositora a não exercer cargos públicos por 12 meses e a proibiu de deixar o país.

Post da TV estatal venezuelana anunciando a punição por “12 meses” (post de 2015)

Em teoria, Corina já estava liberada para concorrer às eleições venezuelanas, porém a Corregedoria-Geral local decidiu na tarde de ontem, após um pedido de revisão de um deputado aliado do regime, que por ela ter apoiado as sanções dos Estados Unidos contra o ditador Maduro, a punição teria recebido uma “extensão” de 15 anos, contando a partir de agora.

Corina, uma “católica ferrenha”, é conhecida localmente como “dama de ferro” e sempre representou a ala mais contrária aos chavistas, rejeitando qualquer tipo de acordo e sendo opositora e crítica até do governo paralelo de Juan Guaidó.

Nos últimos meses, focando na eleição que acontecerá em 2024, Corina passou a viajar o país fazendo campanha política.

O ex-governador Henrique Capriles, outro opositor que foi barrado hoje, já disputou eleições contra o falecido Hugo Chávez, em 2012, e contra Maduro, um ano depois. Apesar de registrar sua candidatura, ele está “inabilitado” de exercer cargos públicos desde 2017, em uma sentença que também é válida por 15 anos “por incorrer em casos ilícitos tipificados, como não apresentação do orçamento local à Assembleia Legislativa do Estado, celebração de convênios internacionais sem autorização para tal e celebração de contratos da Prefeitura de Miranda com empresas em desacordo com as normas” (imputação de crime comum entre os opositores barrados).

Juan Guaidó, que chegou a ser reconhecido como presidente venezuelano por 90 países, também teve sua candidatura barrada.

Seguindo o protocolo local, o candidato da oposição (dos que não foram barrados) será escolhido nas primárias que serão realizadas em outubro deste ano.

As primárias são organizadas por um órgão chamado CNE (Conselho Eleitoral da Venezuela), que teve sua última direção (5 membros) nomeada em 2021 em um acordo celebrado entre o regime e a oposição venezuelana (acordo, que apesar de desproporcional, foi inicialmente aplaudido por organizações internacionais, que posteriormente criticaram o órgão por não atender aos requisitos de transparência exigidos nas eleições regionais locais).

Três membros eram ligados ao regime e dois membros eram ligados à oposição.

Nas últimas semanas, os três membros ligados ao regime renunciaram aos seus cargos sem maiores explicações, o que acabou pressionando os outros dois membros de oposição a deixarem seus cargos.

O grupo ligado a Juan Guaidó acha que esse movimento foi uma estratégia para atrapalhar a realização das primárias.

A outra vertente da oposição acha que o movimento pode ter sido parte do acordo que o regime venezuelano está negociando com os Estados Unidos no México para que sejam canceladas algumas sanções (o CNE é um dos pontos principais das discussões).

Os novos diretores do CNE serão apontados uma uma comissão da Assembleia chavista composta por 11 deputados, entre eles a primeira-dama e esposa de Maduro.

A oposição ainda se dividia sobre a realização de primárias informais na Venezuela, porém hoje, como foram barrados os principais candidatos ao pleito, este aparentemente será o caminho (isso já está sendo abertamente discutido).

Em março deste ano, ao retornar ao Brasil após uma visita com direito a encontro com o ditador Nicolás Maduro, o assessor especial da Presidência Celso Amorim disse em entrevistas que “em 20 anos” de relações com país, ele nunca havia visto “um clima tão grande de incentivo à democracia”.

Ainda não é possível saber se o candidato escolhido nas primárias informais será aceito nas “eleições” que serão organizadas pelo regime venezuelano*

Relevante: Quando ocorreu um levante na Venezuela no ano de 2019, inúmeras fontes dizem que o ditador Nicolás Maduro estava pronto para sair do país. O narcotraficante e “braço direito” de Maduro, Diosdado Cabello, foi quem recebeu ligações de Vladimir Putin para que ele segurasse o ditador no país. Cabello é a figura que comanda os “Colectivos” (milícia armada do regime venezuelano). Desde então, a segurança pessoal do ditador é realizada pelo recém-mundialmente-conhecido “Grupo Wagner”, a milícia armada que trabalhava até semana passada em todos os continentes aos comandos de Vladimir Putin. Após toda a polêmica do Grupo Wagner na semana passada, os soldados da milícia estão sendo absorvidos pelas Forças regulares da Rússia (milícia sendo dissolvida). O próprio ditador Nicolás Maduro chamou publicamente o movimento do grupo na Rússia de “terrorismo”. Os ditadores africanos que também utilizam a proteção da milícia já foram comunicados sobre a mudança (absorção). Clique aqui para ler mais sobre a presença russa no país (equipamentos)>


(Em atualização)

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