SÃO PAULO, 25 de setembro — Sob a justificativa da assinatura de um “protocolo de intenções para a realização de uma agenda de promoção da igualdade racial e do combate ao racismo em todos os esportes”, a ministra da Igualdade Racial Anielle Franco divulgou em suas redes sociais o registro da utilização de um jatinho Legacy 600 (versão VIP do ERJ-135/VC-99B, matrícula FAB2582) da Força Aérea Brasileira para comparecer à final de um campeonato de futebol entre o seu time Flamengo e o São Paulo no Estádio do Morumbi; além da assinatura do “protocolo de intenções”, a ação, batizada de ‘Com Racismo Não Tem Jogo’, contou com a utilização de um balão inflável com o dizer “Disque 100”, que é o número do telefone do “Disque Direitos Humanos” (registro de denúncias de violações de direitos humanos) e a distribuição de camisetas aos jogadores.
De acordo com o que foi divulgado pelo ministério, a ação foi pensada a partir dos episódios de racismo que envolveram o jogador Vinicius Jr na Espanha no início deste ano e tinha a missão de “sensibilizar as pessoas para a importância de denunciar violações de direitos, dentre elas o racismo durante as partidas de futebol”.
Se encontraram com a ministra no estádio os ministros do André Fufuca (aliado de Arthur Lira que agora comanda a pasta do Esporte) e Silvio Almeida (Direitos Humanos).
No vídeo que mostra o embarque no jatinho da FAB, Anielle, que é flamenguista, começa cantando “domingo, eu vou ao Maracanã … ops, ato falho, gente, domingo a gente tá indo pro Morumbi, não só porque eu sou flamenguista”, e segue justificando a ida ao estádio com a assinatura do protocolo de intenção contra o racismo.
Nos Stories no Instagram da ministra também estão imagens de Anielle assistindo ao jogo na torcida e participando da entrega de medalhas aos jogadores de seu time (acompanhada do ministro do Centrão André Fufuca).
Hoje, boa parte dos comentários em todas as redes sociais da ministra são de pessoas cobrando explicações sobre o transporte utilizado por ela.
Em junho, a ministra de Estado também criou polêmica ao postar um vídeo em uma motocicleta e sem capacete no Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, justificando a infração com a obediência às regras do tráfico de drogas local. Segunda a justificativa do ministério, além da não utilização dos capacetes, motoristas também precisam andar com os vidros abaixados na região.
No começo do ano, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, visitou a mesma comunidade, que é formada por 16 favelas e tem o comando dividido entre os rivais Comando Vermelho e TCP (Terceiro Comando Puro). Dino recebeu inúmeras críticas após especialistas e policiais dizerem publicamente que a entrada do ministro não seria possível sem a autorização (“aval”) do tráfico local.
Outra polêmica sobre voos com jatinhos da FAB: No início deste ano, o ministro das Comunicações Juscelino Filho (Centrão) usou um avião da FAB e recebeu quatro diárias e meia no mesmo fim de semana em que participou de leilões de cavalos de raça.
A viagem foi solicitada com status de urgência para o cumprimento de compromissos oficiais.
De acordo com a agenda do ministro, os eventos que contavam com a presença dele totalizavam apenas duas horas e meia.
Os advogados do Juscelino Filho chegaram a dizer que ele ‘pegou uma carona’ no voo de volta com o ministro do Trabalho Luiz Marinho e que isso não teria custado dinheiro público extra, porém os documentos do ministério da Defesa mostraram que isso não era a realidade e que um voo foi solicitado pelo próprio ministro.
Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação também mostraram que Juscelino não constava na relação de passageiros do voo de Luiz Marinho.
Os voos pela FAB de ida e volta do ministro custaram aos cofres públicos R$ 130.392,87.
(Em atualização)