BERLIM, 23 de fevereiro — O partido governista da Alemanha, SPD (Partido Social Democrata), do chanceler esquerdista Olaf Scholz, sofreu hoje sua pior derrota em mais de um século, obtendo pouco mais de 16% dos votos, ficando atrás da AfD (Alternativa para a Alemanha), com cerca de 20%, e da CDU/CSU (União Democrata Cristã), que conquistou aproximadamente 28,5%, o que deve levar o advogado Friedrich Merz (69), o mais famoso rival de Angela Merkel, à liderança do país.
É a primeira vez desde 1887 que o Partido Social-Democrata da esquerda alemã não fica entre os dois primeiros colocados nas eleições do país.
Já que nenhum partido conseguirá atingir sozinho as 316 cadeiras necessárias no Parlamento alemão (Bundestag) para formar um governo, será imprescindível a realização de negociações e alianças para garantir a maioria exigida.
Vários líderes mundiais estão, neste momento, postando cumprimentos ao futuro chanceler alemão Friedrich Merz em suas redes sociais, incluindo o presidente americano Donald Trump, que celebrou a vitória da centro-direita política na Alemanha em sua conta pessoal no Truth Social, chamando-a de “um grande dia para a Alemanha e para os Estados Unidos”.

Apesar do cumprimento público, Merz segue a linha do provável próximo primeiro-ministro do Canadá, o conservador Pierre Poilievre, e dos políticos de direita franceses, que desde as últimas declarações de Trump, têm defendido uma maior independência em relação aos Estados Unidos.
Há pouco, em uma entrevista pública, Merz, defensor da OTAN e de um posicionamento público contrário à Rússia, assim como a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, afirmou: “Nunca pensei que fosse dizer isso”, mas que “conquistar a independência dos EUA é uma prioridade”. Ele acrescentou que “não tem absolutamente nenhuma ilusão” sobre o interesse de Trump pelo futuro dos países europeus e criticou a interferência de Elon Musk, que fez campanha pública para o partido AfD (ligado à Rússia), afirmando que não vê diferença entre a interferência interna de Musk, Trump e Moscou.
Os vínculos entre o partido AfD e a Rússia envolvem aspectos financeiros, políticos e ideológicos, evidenciando uma relação estreita e sistemática. Entre os casos mais concretos, destacam-se repasses financeiros ilícitos, como os que envolvem dois dos principais líderes do partido, Maximilian Krah e Petr Bystron. Ambos foram flagrados em gravações recebendo dinheiro em espécie do site de propaganda russa Voice of Europe, que pertencia ao bilionário ucraniano Viktor Medvedchuk, um dos amigos mais íntimos de Vladimir Putin e a figura que a Rússia planejava instalar no poder na Ucrânia para substituir Zelensky após a última invasão. No campo institucional, an ala jovem do AfD mantém uma aliança formal com o movimento juvenil do Rússia Unida, partido de Putin, fortalecendo os laços entre as organizações. Além disso, parlamentares do partido atuam diretamente em defesa de interesses russos. Um exemplo é o parlamentar Robby Schlund, que propôs a abertura de um gabinete parlamentar em Moscou. Outros membros do AfD realizaram visitas frequentes à capital russa com despesas custeadas pelo regime de Putin. A presença de figuras influentes do partido em redes ligadas à ideologia do Kremlin também reforça essa conexão. O parlamentar Markus Frohnmaier, por anos, teve como assessor Manuel Ochsenreiter, conhecido como “filho espiritual” de Aleksandr Dugin, o principal ideólogo do Kremlin. Além disso, parlamentares como Steffen Kotré, Tino Chrupalla — líder do AfD e amigo pessoal do chanceler russo Sergey Lavrov — e Eugen Schmidt participam regularmente de programas da TV estatal russa alinhados ao regime de Putin, ampliando a visibilidade dessa relação. Outro elemento dessa aproximação é a criação da associação Ostwind (“Vento do Leste”), fundada em 2023 pelo parlamentar Hans-Thomas Tillschneider. O grupo tem como objetivo declarado promover a “paz e amizade” com a Rússia, reforçando ainda mais a afinidade entre o AfD e Moscou.
Vale destacar que o partido defende, entre suas bandeiras públicas, a redução do auxílio à Ucrânia e a reativação dos gasodutos russos, que foram responsáveis pela criação da dependência energética da Alemanha em relação à Rússia, um ponto que sempre foi alvo de críticas por parte de Trump.
Outro líder a parabenizar Merz por meio de duas redes sociais foi o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que afirmou estar “ansioso para trabalhar de perto com o seu próximo governo” e para “fortalecer ainda mais a parceria” entre os dois países.
Congratulations to @_FriedrichMerz and @CDU/@CSU on their clear election victory today. Looking forward to working closely with your upcoming government to further strengthen the partnership between our two countries.
— Benjamin Netanyahu – בנימין נתניהו (@netanyahu) February 23, 2025
Merz assumirá a cadeira enfrentando uma estagnação financeira, uma grave crise migratória e uma situação que exigirá um maior investimento na área militar, questões que dominaram os debates políticos do país antes das eleições.
A questão da migração foi um dos principais pontos em comum entre os dois primeiros colocados desta eleição e o tema que mais prejudicou o partido governista, que obteve os piores números de sua história.
Ainda não é possível prever como será formado o novo governo alemão nem os partidos que farão parte dele, mas espera-se que a maioria necessária seja definida até a Páscoa.
Pelo menos por ora, devido a diferenças ainda irreconciliáveis, é improvável que o partido conservador forme uma aliança com o segundo colocado, a AfD.
(Matéria em atualização)