DOHA, 1 de dezembro — O presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva voltou aos noticiários no Oriente Médio ao conceder uma entrevista à mídia estatal do Qatar, Al Jazeera, emissora com laços estreitos com o Hamas, e voltar a comparar o governo de Israel com o grupo terrorista; o mandatário chegou a chamar – novamente – a situação em Gaza de “genocídio”.
De acordo com Lula, o primeiro-ministro israelense seria um “extremista” e o presidente americano Joe Biden “não teve sensibilidade” para intervir e congelar a guerra contra o Hamas.
“Temos um grupo que comete um ato terrorista de um lado, é então você tem um Estado que repete … é ainda mais sério do que o ato terrorista o que eles estão fazendo agora. O problema é que temos 16 mil pessoas mortas, ente elas 6.500 criança. Temos 35 mil pessoas feridas. Temos 7.000 desaparecidos […] O que vemos em Gaza não é uma guerra tradicional. O que estamos vendo é genocídio, matança de milhares de crianças e mulheres que não tem nada a ver com isso e a destruição de infraestrutura que levou anos para ser construída. Isso não vai nos levar a lugar algum. O mundo precisa de paz […] Netanyahu é efetivamente extremista, de extrema direita, sem sensibilidade com os problemas dos palestinos, ele pensa que os palestinos não significam nada. Ele precisa aprender que os palestinos precisam ser respeitados, sua terras marcadas […] Não consigo entender. Não consigo entender como o presidente Biden, do país mais importante do planeta, não teve a sensibilidade de acabar com esta guerra. Os EUA tem muita influência sobre Israel. Influência financeira, política, militar, poderiam ter acabado com a guerra e iniciado um processo de negociação. Palavra é mais barata que arma, mata menos. Destruir 40 mil casas, destruir hospital” –Lula em entrevista à estatal qatari Al Jazeera
Na mesma entrevista, ao ser questionado sobre a situação na Ucrânia, Lula sugeriu que a guerra fosse resolvida por um referendo, sem mencionar que Putin já realizou falsos referendos em regiões ucranianas para tentar legitimar a invasão – plebiscitos que sequer foram reconhecidos por países além da Síria, Bielorrússia, Nauru e Coreia do Norte –.
Ainda neste assunto, falando sobre o Brasil estar na presidência do G20, quando perguntado sobre o mandado de prisão de Vladimir Putin emitido pelo Tribunal Penal Internacional, Lula disse Putin virá ao Brasil se quiser e que nada acontecerá com ele, indo contra o tratado assinado pelo governo brasileiro.
“Uma das acusações contra Putin é por sequestrar crianças. Agora nessa guerra (Israel contra o Hamas) há crianças sequestradas dos dois lados. Putin será convidado [para reunião do G20 no RJ]. Ele não virá se não quiser vir. Se ele vier, asseguro que será respeitado e não será preso.” -Lula
Em setembro deste ano, Lula também havia dito que não cumpriria a lei internacional sobre este tratado em entrevista ao indiano FirstPost. A declaração gerou inúmeras críticas e um árduo trabalho da equipe presidencial (ministros e assessores) e do Itamaraty parar reparar os danos políticos e internacionais causados pela entrevista.
Dois dias depois, durante coletiva antes da despedida na Índia e embarque ao Brasil, o presidente Lula recuou e disse que a Justiça decidirá sobre a matéria.
O Brasil é um dos 124 países signatários do tratado, e de acordo com a própria Constituição Federal, não tem a opção de não cumprir uma ordem do tribunal.
Os governos israelense e ucraniano ainda não comentaram sobre o assunto (provavelmente serão divulgadas notas através das embaixadas ou pelos Ministérios das Relações Exteriores).
(Em atualização)