BRASÍLIA, 5 de fevereiro — O presidente Lula voltou a se pronunciar publicamente hoje, em entrevista ao vivo às rádios Itatiaia, Mundo Melhor e BandNews, sobre o polêmico tema de uma possível futura disputa tarifária com os Estados Unidos, liderados pelo presidente Donald Trump, a quem Lula chamou de “político que vive de bravatas”.
“Você tem um tipo de político que vive de bravata. Então, o presidente Trump ele fez a campanha dele assim. Ele agora tomou posse e já anunciou ocupar a Groenlândia. Já anunciou anexar o Canadá, já anunciou mudar o nome de Golfo do México para Golfo da América, já anunciou reocupar o canal do Panamá. Ou seja, sinceramente, nenhum país, por mais importante que seja, pode brigar com todo mundo todo tempo” -Lula
Lula, que há dias vem ouvindo de auxiliares da diplomacia que esse assunto deveria ser evitado para “não chamar o presidente americano para a briga”, afirmou que, caso os Estados Unidos imponham tarifas ao Brasil — medida esperada para o aço e alguns outros produtos —, o país responderá na mesma moeda, com tarifas que poderão chegar a 35%, conforme permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
“É lógico! É lógico! É o mínimo de decência que merece o governo é utilizar a lei da reciprocidade. Você tem na organização mundial do comércio uma permissão para que possa taxar qualquer produto até 35%. Para nós, o que seria importante seria os EUA baixar a taxação e nós baixarmos a taxação. Mas se ele e qualquer país aumentar a taxação do Brasil, nós iremos taxá-los também. Isso é simples e muito democrático.” -Lula
Ao responder aos jornalistas das rádios que conduziram a entrevista, Lula, citando os recentes movimentos do governo americano, chamou o presidente Trump de “político que vive de bravatas”. Ele afirmou que a mídia “perde tempo” dando atenção a Trump, da mesma forma que fazia com o ex-presidente Jair Bolsonaro — a quem se referiu como Collor —, e lembrou que ouvia declarações de Bolsonaro o dia inteiro enquanto estava preso na Polícia Federal.
Outro tema polêmico abordado por Lula foi a questão da moeda de negociação interna do BRICS, que Trump ameaçou com sanções e tarifas de 100% para os países que insistissem em seguir com essa proposta.
“Ele tem que saber o seguinte, os BRICS significam praticamente metade da população mundial. Significa quase metade do comércio exterior desse mundo. E nós temos o direito de discutir da criação de uma forma de comercialização que a gente não dependa só do dólar […] Então, é importante que a gente não tenha preocupação com as bravatas do Trump. Que a gente discuta o que é importante para nós. O que é importante para o mundo. Não é o mundo que precisa dos EUA, os EUA também precisam do mundo […] ninguém pode viver de bravata a vida inteira, ninguém pode viver ameaçando todo mundo a vida inteira” -Lula
Em dezembro do ano passado, quando Trump já havia ameaçado impor tarifas e sanções contra países que apoiassem a ideia da “moeda dos BRICS”, o chanceler russo Sergey Lavrov, que considera a proposta “inviável” neste momento, afirmou publicamente que a sugestão havia partido de Lula durante a cúpula dos BRICS em Joanesburgo, em 2023.
Na época, em seu discurso oficial na cúpula, Lula disse: “O que nós queremos é criar uma moeda que nos permita fazer negócios sem precisar usar o dólar […] Resolvemos criar uma moeda porque isso facilita a vida das pessoas”.
O governo americano, que provavelmente será questionado sobre as declarações de Lula — as mais duras contra Donald Trump até o momento —, ainda não se pronunciou sobre o assunto.
(Matéria em atualização)
