BRASÍLIA, 6 de março — Em coletiva de imprensa realizada ao lado do primeiro-ministro socialista espanhol Pedro Sánchez, o presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva voltou a virar polêmica ao defender uma “presunção de inocência” para as eleições venezuelanas que foram marcadas para acontecer sem oposição para o próximo dia 28 de julho e dizer que a oposição do país deveria parar de chorar e indicar outros candidatos que não ainda não foram impugnados pelo regime venezuelano, para que estes possam – talvez – disputar o pleito.
Antes da coletiva, à jornalistas presentes, sobre o tema, Lula ainda disse que “se o candidato de oposição tiver o mesmo comportamento do que temos aqui, nada vale”.
“O que eles [Venezuela] me disseram, da reunião que tive na Celac, é que vão convidar olheiros do mundo inteiro. Mas se o candidato da oposição tiver o mesmo comportamento que o nosso aqui, nada vale […] Aqui, neste país, eu fui impedido de concorrer nas eleições de 2018. Ao invés de ficar chorando, eu indiquei um outro candidato, que disputou as eleições. Na Venezuela, tá marcada as eleições pro dia 28 de julho. Agora, a pergunta é se a eleição vai ser honesta ou não. Eu espero que as eleições as mais democráticas possíveis […] O que eu posso esperar? Que haja as eleições para a gente saber se elas foram democráticas ou não. A gente não pode já começar a jogar dúvida antes de as eleições acontecerem. Porque aí começa a ter um discurso de que vai prever antecipadamente que vai ter problema. Nós temos que garantir a presunção de inocência até que haja as eleições” -Lula
Seguindo a agenda oficial, Lula se encontrou com o primeiro-ministro espanhol hoje no Palácio do Planalto para que os dois assinassem termos de cooperação nas áreas de telecomunicações, infraestrutura, ciência e tecnologia (termos assinados publicamente durante a cerimônia).
Ainda segundo a agenda que foi divulgada ontem, a campanha eleitoral no país começará dia 4 de maio, pouco depois do registro oficial das candidaturas, que acontecerá neste mês de março, entre os dias 21 e 25.
A data do pleito e a realização das eleições ainda eram uma dúvida desde que Maduro resolveu inabilitar eleitoralmente seus adversários, entre eles Maria Corina Machado, que figurava na posição de maior opositora do ditador venezuelano até o momento.
Não é esperado que o regime venezuelano volte a habilitar a candidatura de Corina Machado, então não está claro como será realizado este pleito, que não possui candidatos de oposição viáveis e com possibilidade de candidatura.
A inabilitação da principal opositora na Venezuela acabou sendo condenada publicamente por vários presidentes da região, incluindo os mandatários da esquerda política que geralmente são próximos a Maduro.
Dos principais países da América do Sul, apenas Brasil e Colômbia ainda não condenaram as impugnações das candidaturas da oposição venezuelana.
Outro motivo que gerou uma forte onda de condenações dos governos da região foi a recente (09/02) prisão da ativista de direitos humanos Rocío San Miguel, conhecida opositora de Maduro, enquanto ela estava em um aeroporto venezuelano pronta para viajar com a família.
De acordo com o procurador-geral do regime venezuelano Tarek William Saab, a ordem de prisão contra Rocío se justifica por ela “supostamente estar ligada e referenciada na trama conspiratória e de tentativa de assassinato denominada ‘Pulseira Branca’, cujo objetivo era atentar contra a vida do Chefe de Estado Nicolás Maduro e outros altos funcionários; bem como o ataque a várias unidades militares em San Cristóbal (Táchira) e outras entidades do país.”.
A prisão de Rocío em um presídio conhecido por ser um centro de tortura do regime venezuelano (El Helicoide) gerou críticas até do órgão de direitos humanos da ONU que ficava no país até então. As críticas foram respondidas por Maduro com a expulsão de todos os funcionários do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos que estavam país desde 2019.
Controversa posição pública brasileira: Em março do ano passado, ao retornar ao Brasil após uma visita com direito a encontro com o ditador Nicolás Maduro, o assessor especial da Presidência Celso Amorim, que cumpre a função de chanceler informal do governo, mesmo com os claros sinais de que Maduro não respeitaria qualquer tipo de eleições limpas na Venezuela, disse em entrevistas que “em 20 anos” de relações com o país, ele nunca havia visto “um clima tão grande deincentivo à democracia”.
Em maio e junho do mesmo ano vieram mais duas falas polêmicas sobre a Venezuela que partiram do próprio presidente Lula.
Em maio, o mandatário brasileiro criou polêmica ao dizer, ao lado de Maduro, que o autoritarismo e a “antidemocracia” venezuelana são uma narrativa; “nossos adversários vão ter que pedir desculpa”.
Em junho, em uma entrevista concedida pelo presidente Lula à Rádio Gaúcha, o presidente disse que o “conceito de democracia é relativo” e que “quem quiser derrotar o Maduro, derrote nas próximas eleições e assuma o poder”, dando ar de legitimidade ao processo eleitoral venezuelano que é contestado até pela ONU.
Ambas as falas foram seguidas de uma série de reparações e ajustes pela equipe próxima do presidente, que passou semanas modulando o discurso que deveria ser utilizado em declarações públicas.
Na última sexta-feira (1), durante a cúpula da Celac, Lula conversou com Maduro por mais de uma hora. De acordo com interlocutores do governo, Lula ouviu mais promessas de Maduro que disse que as eleições de fato aconteceriam neste segundo semestre, e que “um novo acordo com partidos de oposição” teria sido firmado (ainda não existem registros de novos acordos).
(Matéria em atualização)