Alexandre de Moraes manda soltar Mauro Cid, que havia sido preso novamente em março ao sair de uma audiência no STF por criticar o andamento de investigações

Ministro Alexandre de Moraes | Imagem por Marcelo Camargo/Agência Brasil (EBC)

BRASÍLIA, 3 de maio — O ministro Alexandre de Moraes ordenou há pouco a soltura do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, que estava preso desde o dia 22 de março após passar por uma audiência no Supremo Tribunal Federal para esclarecer áudios que foram divulgados pela Revista VEJA no qual Cid critica a Polícia Federal e o ministro Moraes pela maneira como estão sendo conduzidas as investigações que o envolvem.

Ao soltar Cid, Moraes determinou a manutenção dos acordos de delação do tenente-coronel em sua “integralidade”.

Cid havia sido preso pela primeira vez em maio de 2023, em uma operação que investiga falsificação de cartões de vacinação e que rendeu, no último dia 19/03, a Cid e mais 16 pessoas no, incluindo o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro, um indiciamento pela Polícia Federal por falsidade ideológica de documento público, tentativa de inserção de dados falsos em sistema de informações e uso de documento falso.

Após seis meses detido, em setembro do ano passado, após um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal (homologado por Alexandre de Moraes), Cid foi solto e estava cumprindo medidas cautelares desde então.

“Foram reafirmadas a regularidade, legalidade, adequação dos benefícios pactuados e dos resultados da colaboração à exigência legal e a voluntariedade da manifestação de vontade […] Além disso, em seu pedido de liberdade provisória, o investigado reafirmou a validade dos relatos prestados em sede policial e informou que, em liberdade, continuará contribuindo com as investigações […] Nessas circunstâncias, reduz-se a percepção de risco para instrução criminal e para a aplicação da lei penal. A pretensão de revogação da custódia cautelar parece reunir suficientes razões práticas e jurídicas, merecendo acolhimento, sem embargo de serem retomadas integralmente as medidas cautelares diversas da prisão anteriormente impostas ao investigado” -trecho da decisão

Nos áudios divulgados pela VEJA (gravados uma semana antes de sua prisão no fim de março), que fizeram com que Cid fosse levado para depor no Supremo, o tenente-coronel diz que sua sentença e as sentenças dos investigados já estavam prontas, insinuando que a investigação seria um teatro.

“Você pode falar o que quiser. Eles não aceitavam e discutiam. E discutiam que a minha versão não era a verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo […] O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação […] O Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta, acho que essa é que é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só tá esperando passar um tempo. O momento que ele achar conveniente, denuncia todo mundo, o PGR (Procurador-Geral da República) acata, aceita e ele prende todo mundo […] Eles estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E todas as vezes eles falavam: Ó, mas a sua colaboração. Ó, a sua colaboração está muito boa’. Ele até falou: Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina, nove tentativas de falsificação de vacina. Vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá. Ele falou assim: Só essa brincadeira são trinta anos para você […] Quem mais se f. fui eu. Quem mais perdeu coisa fui eu. O único que teve pai, filha, esposa envolvido, o único que perdeu a carreira, o único que perdeu a vida financeira fui eu. Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, já tinha atingido o topo, né? O presidente teve Pix de milhões, ficou milionário, né? Se eu não colaborar, vou pegar trinta, quarenta anos. Porque eu estou em vacina, eu estou em joia. Vai entrar todo mundo em tudo. Vai somar as penas lá, vai dar mais de 100 anos para todo mundo. Entendeu? A cama está toda armada. E vou dizer: os bagrinhos estão pegando dezessete anos. Teoricamente, os mais altos vão pegar quantos?” -Mauro Cid

Para justificar essa segunda prisão, Moraes havia argumentado que os áudios tinham prejudicado as investigações e que Cid não havia mantido o sigilo de sua colaboração ao ser gravado comentando os seus depoimentos.

Na semana passada, os advogados de Cid solicitaram a revogação da prisão, dizendo que ela era desnecessária e que não houve qualquer violação nos acordos.

Ao ministro, Cid disse que os áudios eram um desabafo e que ele não havia sido coagido por policiais durante suas delações.

A soltura foi comunicada à jornalistas da Globo News pela própria defesa de Cid no exato momento da divulgação oficial da medida.

Cid voltará a cumprir as mesmas medidas cautelares que já cumpria antes da segunda prisão.


(Matéria em atualização)

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