Arábia Saudita e Irã anunciam o retorno de relações e reabertura de embaixadas; mediação foi feita pela China

Príncipe saudita Mohammed bin Salman bin Abdulaziz | Imagem por Kathryn E. Holm/DoD

TEERÃ, 10 de março — O regime iraniano e Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita divulgaram na manhã de hoje um comunicado oficial anunciando o retorno de relações diplomáticas e a reabertura de suas respectivas embaixadas nos dois países após anos de relações estremecidas; acordo, que teria sido mediado pela China, é um duro golpe nos chamados “Acordos de Abraão” que estavam aproximando os Emirados Árabes de Israel, e realisticamente significa uma drástica e ainda imprevisível mudança na região.

Ontem, a Arábia Saudita anunciou que estava procurando oficialmente o governo americano para pedir garantias de segurança para o desenvolvimento doméstico de urânio e o “desenvolvimento pacífico” da energia nuclear no país.

A moeda de troca seria estabelecer relações plenas com Israel (o que levanta suspeitas sobre a motivação da reaproximação com o Irã).

Comunicado trilateral entre Arábia Saudita, Irã e China (post do Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita)

Declaração Trilateral Conjunta do Reino da Arábia Saudita, República Islâmica do Irã e República Popular da China em resposta à nobre iniciativa de Sua Excelência o Presidente Xi Jinping, Presidente da República Popular da China, do apoio da China ao desenvolvimento e boas relações de vizinhança entre o Reino da Arábia Saudita e a República Islâmica do Irã e com base no acordo entre Sua Excelência o Presidente Xi Jinping e as lideranças do Reino da Arábia Saudita e da República Islâmica do Irã, pelo qual a República Popular da China sediaria e patrocinaria as negociações entre o Reino da Arábia Saudita e a República Islâmica do Irã: Partindo do desejo comum de resolver as divergências entre eles por meio do diálogo e da diplomacia, e à luz de seus laços de fraternidade; Aderindo aos princípios e objetivos das Cartas das Nações Unidas e a Organização de Cooperação Islâmica (OIC) e convenções internacionais e normas; As delegações dos dois países mantiveram conversações durante o período de 6 a 10 de março de 2023 em Pequim – a delegação do Reino da Arábia Saudita chefiada por Sua Excelência Dr. Musaad bin Mohammed Al-Aiban, Ministro de Estado, Membro do Conselho de Ministros , e Conselheiro de Segurança Nacional, e a delegação da República Islâmica do Irã chefiada por Sua Excelência Almirante Ali Shamkhani, Secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional da República Islâmica do Irã. Os lados saudita e iraniano expressaram seu apreço e gratidão à República do Iraque e ao Sultanato de Omã por sediarem rodadas de diálogo que ocorreram entre os dois lados durante os anos 2021 e 2022. Os dois lados também expressaram seu apreço e gratidão à liderança e ao governo de a República Popular da China por sediar e patrocinar as conversações, e o esforços que colocou para o seu sucesso. Os três países anunciam que foi alcançado um acordo entre o Reino da Arábia Saudita e a República Islâmica do Irã, que inclui um acordo para retomar as relações diplomáticas entre eles e reabrir suas embaixadas e missões em um período não superior a dois meses, e o acordo inclui a afirmação do respeito pela soberania dos Estados e a não ingerência nos assuntos internos dos Estados. Também concordaram que os ministros das Relações Exteriores de ambos os países se reunirão para implementá-lo, providenciar o retorno de seus embaixadores e discutir formas de estreitar as relações bilaterais. Também concordaram em implementar o Acordo de Cooperação em Segurança entre si, assinado em 1422/1/22 (H), correspondente a 17/04/2001, e o Acordo Geral de Cooperação nas Áreas de Economia, Comércio, Investimento, Tecnologia , Ciência, Cultura, Desporto e Juventude, que foi assinado em 1419/2/2 (H), correspondente a/27/05/1998. Os três países expressaram seu desejo de envidar todos os esforços para reforçar a paz e a segurança regional e internacional. Emitido em Pequim em 10 de março de 2023.” –Íntegra da nota emitida pelos 3 países

As relações diplomáticas entre os dois países foram rompidas em 2016, após manifestantes iranianos invadirem postos diplomáticos sauditas no Irã.

O próprio príncipe saudita Mohammed bin Salman já chegou a chamar, em 2018, o líder supremo iraniano Ayatollah Khamenei de “novo Hitler”.

“Não queremos que o novo Hitler no Irã reproduza no Oriente Médio o que aconteceu na Europa […] Ele quer expandir. Ele quer criar seu próprio projeto no Oriente Médio muito parecido com Hitler, que queria expandir na época. Muitos países ao redor do mundo e na Europa não perceberam o quão perigoso Hitler era até o que aconteceu, acontecer. Não quero ver os mesmos eventos acontecendo no Oriente Médio […] aprendemos (com o que aconteceu) na Europa, que a política de apaziguamento não funciona […] A Arábia Saudita não quer adquirir nenhuma bomba nuclear, mas sem dúvida, se o Irã desenvolver uma bomba nuclear, faremos o mesmo o mais rápido possível –príncipe saudita Mohammed bin Salman, em 2018, falando sobre o líder supremo iraniano Ayatollah Khamenei (entrevistas concedidas ao The New York Times e CBS)

O regime iraniano respondeu oficialmente dizendo que o príncipe era imaturo e “fraco de cabeça”.

Os dois países apoiam lados opostos na Síria e no Iêmen, além da própria Arábia Saudita estar em guerra contra os Houthis (rebeldes iemenitas financiados e armados diretamente pelo Irã).

Todos os ataques com drones kamikaze (loitering munition) e mísseis que a Arábia Saudita sofreu nos últimos anos foram realizados com a utilização de drones e mísseis iranianos (enviados com este exato propósito).

Em março do ano passado, a icônica Torre Azadi, que fica na capital iraniana Teerã, passou a exibir projeções dos líderes dos Houthis logo após um ataque contra a Arábia Saudita que atingiu uma instalação da petrolífera estatal saudita ARAMCO.

Exposição saudita dos drones kamikaze (loitering munition) iranianos que foram utilizados para em ataques contra a Arábia Saudita (2019~2022)

Antes do anúncio: Ainda nesta última semana, Israel e Estados Unidos se comprometeram a não deixar o Irã desenvolver armas nucleares após um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) apontar que na última visita ao país, foram encontradas partículas de urânio enriquecidas a 83,7%, pouco abaixo dos 90% que são necessários para produzir uma bomba nuclear (nível 18 vezes maior que o limite estabelecido em 2015)*

Um oficial americano chegou a dizer, em uma reunião fechada com o Congresso americano, que o Irã poderia criar una bomba nuclear “em 12 dias”.

Políticos e oficiais israelenses estão criticando duramente este anúncio (internamente culpam a “fraqueza” do presidente americano Joe Biden)*


(em atualização)

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