Em meio a crise econômica e inflação acumulando alta de 104% em 12 meses, presidente argentino anuncia que não concorrerá à reeleição em outubro

Presidente argentino Alberto Fernández | Imagem por Mauro Rico/Ministerio de Cultura de la Nación

BUENOS AIRES, 21 de abril — O presidente argentino Alberto Fernández, sustentado pela coalizão governista “Frente de Todos” anunciou hoje que não concorrerá à reeleição nas eleições que estão marcadas para acontecer em 22 de outubro deste ano; Fernández enfrenta uma dura crise econômica e uma inflação que acumula alta de 104,3% em 12 meses (números de março).

Antes disso, em 13 de agosto, serão realizadas as primárias das eleições argentinas, chamadas localmente de PASO (primárias abertas, simultâneas e obrigatórias).

O comunicado foi divulgado há pouco pelas redes sociais do presidente, seguido da legenda “Minha decisão”, e termina com o presidente argentino dizendo que entregará a faixa ao próximo presidente da Argentina no dia 10 de dezembro.

Íntegra do discurso (em vídeo):

“Estamos às vésperas do vigésimo aniversário da chegada de Néstor Kirchner à presidência da Nação. Tive o enorme privilégio de chegar com ele à Casa Rosada e também presenciar sua façanha. Hoje, há quase quatro anos, iniciamos o caminho que nos levou à vitória nas eleições de 2019, encerrando um ciclo de mal-estar para o povo argentino. Quando tive que assumir a liderança do país, estávamos, mais uma vez, em uma situação extrema. Todos sabemos que estes anos não foram tempos fáceis. Em 2019 recebemos um país endividado, em recessão, inadimplente, com alta pobreza e inflação. E tivemos que enfrentar uma pandemia global, uma guerra e, neste momento, as consequências de uma seca brutal. Em meio a tantos altos e baixos, voltamos a crescer. Construímos casas como nunca antes. Fizemos obras públicas em todo o país. Algumas são estratégicas, como o gasoduto Néstor Kirchner. Ampliamos os direitos de mulheres e dissidentes. Fortalecemos a ciência e a educação e também revitalizamos o setor produtivo. Defendemos nossas posições em fóruns internacionais. Somos protagonistas do destino latino-americano e construímos pontes em um mundo em crise. É claro que não conseguimos tudo o que nos propusemos a fazer. Famílias em situação de pobreza nos machucam. A baixa renda nos machuca. Os projetos e sonhos que não puderam se concretizar nos machucam. Mas, apesar de tantas dificuldades, tenho uma certeza. Não temo uma única medida contra nosso povo.
Hoje, um novo problema nos aflige. A seca mais forte em mais de um século nos coloca em alerta vermelho. Obriga-nos a redesenhar todos os nossos objetivos. Convoca-nos a dedicar-nos exclusivamente a este novo desafio. Quase 20 bilhões de dólares deixaram de entrar na Argentina. Num contexto tão difícil, ainda vemos como os habituais especuladores preocupam os mercados ao jogar com o dólar ilegal. Estou longe de reclamar. Para nós que abraçamos a política como vocação e buscamos assumir responsabilidades para melhorar a sociedade em que vivemos, não temos espaço para arrependimentos. Temos a responsabilidade histórica de fazer honestamente o que temos de fazer. Essa responsabilidade e compromisso me levam hoje, como Presidente da Nação, a estar convencido, sem dúvida, de que devo concentrar meu esforço, meu compromisso e meu coração na solução dos problemas dos argentinos e das argentinas. Como enfrentamos a dívida, como nos saímos durante a pandemia, como lidamos com os efeitos da guerra, como nos recuperamos todas as vezes que tivemos dificuldades, unidos, claramente, como uma equipe, colocando todo o nosso esforço, encontrando soluções inovadoras onde outros não ofereça soluções. Vamos superar esta situação. E vamos continuar trabalhando para crescimento e distribuição.
Desde que comecei a ser um militante político nos anos 70, nunca coloquei a ambição pessoal à frente da necessidade do todo. Como militante peronista sempre soube que primeiro vinha a Pátria, depois o movimento e por último os homens. Por isso vou cumprir essa escala de prioridades. O contexto econômico me obriga a dedicar todos os meus esforços para enfrentar os momentos difíceis que a Argentina atravessa. Como disse recentemente, depois da Pátria, vem o movimento. Deixe-me falar também com meus colegas. Acredito fervorosamente na democracia como um sistema para alcançar nossos objetivos em uma comunidade organizada. Também devemos usar suas ferramentas para a vida partidária. Por isso, acredito que os PASO (Primarias, Abiertas, Simultáneas y Obligatorias) são o veículo para que a sociedade selecione os melhores homens e mulheres de nossa frente que melhor nos representem nas próximas eleições gerais.
Como Presidente do Partido da Justiça, vou garantir que todos os que se sentirem aptos a enfrentar este desafio o possam fazer. Precisamos gerar um novo círculo virtuoso. Em que outros se empoderem para reconquistar o coração de quem continua a olhar para nós como o espaço que garante que o direito não voltará para nos trazer o seu pesadelo e a sua escuridão. Todos sabem que estarei diretamente envolvido para tornar isso possível. Nesses anos, optei por suportar algumas críticas ou enfrentar manobras de difamação contra o governo nacional e nunca respondi. Devido à minha responsabilidade como presidente, evitei qualquer escalada nos conflitos. Sempre agi assim, para garantir a união do nosso espaço político. Chegamos hoje, apesar de todas as dificuldades, unidos antes de iniciar uma nova disputa eleitoral. Essa união se fortalecerá com a competição, com a militância, com a busca de novos protagonistas. O peronismo do século XXI não pode ignorar as demandas de participação de nossos militantes. Nossa força sempre esteve em nossa capacidade de interpretar e desafiar a sociedade. Nestes tempos, talvez mais do que em outros, precisamos nos revitalizar. Além das críticas internas e do maior ou menor apoio recebido, não tenho um único adversário na Frente de Todos. Pelo contrário, reconheço neles um destino comum. Meus adversários são aqueles que devemos enfrentar nas eleições gerais. Eu disse que estávamos de volta para sermos melhores. Para sermos melhores, devemos democratizar nosso espaço. Vamos dar a caneta a cada militante. O peronismo tem a força, a militância e os quadros para alcançar a vitória. Essa vitória depende de nós. Este ano, comemoramos 40 anos de democracia. Essa conquista nos enche de orgulho e deixa ainda mais evidente nossa dívida para com uma parte importante do nosso povo. Apelo a todos nós para atravessarmos esta época eleitoral tão propensa a excessos, com o maior respeito pelos nossos adversários. Todos nós podemos dar uma contribuição genuína dos espaços públicos para melhorar o debate político que merecemos. Ninguém deve ser enganado, nem tudo é igual na política. Aqueles que pregam a liberdade são os que mais fazem para estabelecer um sistema socialmente injusto.
No próximo dia 10 de dezembro é o dia exato em que comemoramos 40 anos de democracia. Nesse dia, entregarei a faixa presidencial a quem for legitimamente eleito nas urnas pelo voto popular. Trabalharei arduamente para que seja companheiro de nosso espaço político e represente aqueles de nós que seguimos e continuaremos lutando por uma pátria justa, com equidade e felicidade para todos e todas”
–presidente argentino Alberto Fernández

A principal força de oposição ao atual presidente de acordo com as pesquisas locais, o ex-presidente Mauricio Macri, anunciou em março deste ano que também não disputará as eleições do fim deste ano.

Vídeo divulgado em março pelo ex-presidente argentino Mauricio Macri

De acordo com as pesquisas locais, um outro nome que aparece liderando nos números – individuais, porém ainda atrás contanto com os números das coalizões – é o deputado Javier Milei (52), um “economista liberal” da coalizão “La Libertad”.

Javier Gerardo Milei | Imagem por World Economic Forum/Benedikt von Loebell

Fernández assumiu a presidência da Argentina em 10 de dezembro de 2019, sob a polêmica local de ser visto como um candidato “poste” de sua vice e ex-presidente Cristina Kirchner, e já havia sido chefe de gabinete na Argentina entre os anos de 2003 e 2008, durante o governo de Néstor Kirchner, e vice-presidente do país durante o governo de Cristina Kirchner.

Caso aconteça um segundo turno na Argentina, a votação está marcada para o dia 19 de novembro.

Não é possível prever se a atual vice-presidente Cristina Kirchner será a candidata que substituirá Fernández, mesmo com ela tendo dito que não se candidataria a nenhum cargo político em 2023.

Este anúncio de ‘não-candidatura’ foi feito no mesmo dia em que Cristina foi condenada a 6 anos de prisão por corrupção (não foi presa porque possui foro privilegiado).


(Em atualização)

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