Maduro convida o senador Chico Rodrigues, que ficou famoso pelo caso do dinheiro nas nádegas, para acompanhar as “eleições” venezuelanas

Senador Chico Rodrigues | Imagem por Waldemir Barreto/Agência Senado

BRASÍLIA, 25 de julho — O ditador venezuelano Nicolás Maduro convidou oficialmente o senador brasileiro Chico Rodrigues (PSB) para acompanhar as “eleições” presidenciais da Venezuela que acontecerão no próximo dia 28 de julho.

O senador partirá hoje à noite de Brasília com destino à Cidade do Panamá e, de lá, seguirá para Caracas, onde deve ficar – com despesas pagas pelo regime venezuelano – até segunda-feira para acompanhar o “pleito”.

Como justificativa, Rodrigues, que é presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Venezuela do Senado e também acompanhou as “eleições” que reelegeram o ex-ditador Hugo Chávez em 2000, disse que não está “indo para passear”, que verificará a “condução de todo o processo” e que no país “tudo funciona: o Judiciário, a economia, as instituições”.

“Não posso julgar o regime deles, porque não vivo lá. Na verdade, tudo funciona: o Judiciário, a economia, as instituições funcionam. A oposição reclama da falta de liberdade, alguns falam em comunismo. Sou contra esse conceito. Acho que o regime luta para permanecer no comando do país […] Não vou para passear. Espero que na programação conste a verificação do deslocamento de eleitores, ida a seções eleitorais, o acompanhamento da condução de todo o processo. Os relatos que tenho recebido são da imprensa, o mundo inteiro sabe das dificuldades dessa eleição e da disputa entre o governo e a oposição. Como o presidente Maduro está há muitos anos no poder, a oposição quer entrar. Quem tá dentro não quer sair, quem tá fora quer entrar, essas dificuldades são inerentes à expectativa de cada grupo. Independentemente de qual seja o resultado, que os dois lados reconheçam o resultado expresso pela vontade popular dos venezuelanos” -Chico Rodrigues

Ao mesmo tempo em que o Senador foi convidado, o deputado Lucas Redecker (PSDB), presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, que recebeu um convite oficial da oposição venezuelana, teve sua entrada negada.

No convite que Rodrigues recebeu na semana passada, assinado pelo vice-presidente de Assuntos Internacionais do PSUV, Rander Peña, Maduro é descrito como “candidato da esperança e dignidade” e o “pleito” é destacado como de “transcendental importância” para a “Revolução Bolivariana”.

“Nesta eleição, o presidente Nicolás Maduro Moros é o candidato da esperança e da dignidade da Pátria de Bolívar e Chávez, com quem garantimos a estabilidade e felicidade no futuro, o fortalecimento da unidade latino-americana e a construção de um mundo mais humano e multipolar. Neste sentido, estendemos nosso convite para que o senhor acompanhe nosso povo durante o desenvolvimento do referido evento eleitoral” -Trecho do convite


Chico Rodrigues ficou muito conhecido no Brasil após ser encontrado com R$ 33.150 em espécie escondidos na cueca e outros R$ 70 mil em sua residência durante a Operação Desvid-19, que investigava contratações irregulares com sobrepreço de quase R$ 1 milhão para ações de combate à pandemia.

Registro do dinheiro sendo removido das nádegas do senador Chico Rodrigues | Divulgação da Polícia Federal

Na época do ocorrido, Rodrigues disse que colocou o dinheiro na cueca porque agiu sob forte emoção, que se sentiu “humilhado”, e que tem certeza que será inocentado; “Confesso que, num dado momento, em meio ao transtorno, fiquei mesmo em dúvida se se tratava de uma operação policial ou de ação de uma quadrilha especializada. Estava dominado pelo pânico e pelo medo”.

Operação Desvid-19 na residência do senador Chico Rodrigues | Divulgação da Polícia Federal

Rodrigues pediu uma licença de 121 dias no Senado e voltou a trabalhar normalmente.

O processo do senador Chico Rodrigues no Conselho de Ética do Senado, que está parado há quase quatro anos, será relatado por Davi Alcolumbre.

Este não foi o único escândalo público no qual Rodrigues se viu envolvido.

Em 2006, o senador foi destaque em uma extensa reportagem do O Globo sobre os congressistas que mais gastavam com combustível (ele havia gasto R$ 174,1 mil no ano anterior).

Em entrevista na época, Chico ADMITIU que colocava outras despesas, “como almoços”, na cota de combustível para obter reembolsos.

Certo não é, mas é maneira que tenho para justificar o gasto. Essa verba deveria ser incorporada ao salário, liberada para qualquer gasto ou suspensa. Do contrário, fica o deputado obrigado a andar com um contador do lado. O deputado é obrigado a fazer uma verdadeira alquimia, ginástica para conseguir ressarcimento. É culpa da Câmara. Sou empresário e não preciso desse dinheiro, mas o que é de direito, não enjeito um centavo … e se tivesse mais, eu utilizaria-Chico Rodrigues

Quando o caso foi enviado à Corregedoria da Câmara, Chico recuou, disse que só gastava com combustíveis, e foi absolvido por unanimidade com um relatório de absolvição do hoje senador Ciro Nogueira.

Relevante: O senador Ciro Nogueira aparece em noticiários há anos em matérias que criticam seus recordes de gastos restituídos (dinheiro público, de imposto) para abastecer seu jatinho particular, do modelo Beech Aircraft B200. Enquanto o senador estava licenciado do Senado, por poucos meses, a mãe de Ciro Nogueira, sua suplente, também apareceu matérias que questionavam o uso de dinheiro público (cota parlamentar) para abastecer a aeronave.

De acordo com a ISTOÉ, que fez um grande levantamento dos gastos de senadores com combustível de aviação para jatinhos particulares, entre janeiro de 2019 e julho de 2023, Ciro gastou mais de R$ 580 mil de dinheiro público para abastecer sua aeronave (nenhum outro senador gastou tanto quanto o piauiense).

Sua mãe, enquanto senadora (suplente), gastou mais de R$41 mil de sua cota parlamentar para encher o tanque do mesmo avião.


(Matéria em atualização)

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